“Opacidade”, “indiferença”, “austeridade”: partidos levam a Marcelo críticas ao PS absoluto

Da direita à esquerda, todos os partidos parlamentares à excepção do PS foram a Belém dizer que os socialistas não estão a cumprir as promessas de diálogo e de aumento real de rendimentos. Socialistas voltam a prometer diálogo e “contas certas”.

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O Presidente da República recebeu os partidos em Belém LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Num Parlamento de maioria absoluta, são sete contra um e no fim ganha o PS. Na primeira ronda de audiências que o Presidente da República fez com os partidos parlamentares desde o início desta legislatura, o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) foi só um exemplo da falta de abertura dos socialistas que os partidos da oposição, da esquerda à direita, levaram a Belém. O outro foi o “chumbo” de várias audições no Parlamento sobre o caso do acolhimento por russos pró-Putin na Câmara de Setúbal.

À direita, o PSD arremessou a “austeridade” contra o PS, acusando-o de “quebra de promessas eleitorais”; o Chega queixou-se da “indiferença absoluta” às propostas dos partidos; a IL lamentou o “crescimento notável da opacidade”. À esquerda, BE e PCP criticaram a perda do poder de compra e a timidez dos aumentos de salários e pensões, enquanto o PAN e o Livre mostraram a sua insatisfação pela falta de reuniões para negociações orçamentais.

Ao fim da tarde, o presidente do PS, Carlos César, respondia: “Não é insatisfação, é ansiedade”, afirmou, assegurando que “esta semana ocorrerão reuniões com o Livre e o PAN”. Sobre os outros, nada disse, mas garantiu que “será intensificado o diálogo com todas as forças políticas”, sobretudo no quadro do orçamento do próximo ano, quando espera que “seja possível ter outra extensão de políticas reformistas”, mas sem fugir à “contenção da despesa pública”. “É muito importante manter a política de contas certas, a redução da dívida e do défice”, sublinhou.

Antes, o presidente do PSD tinha acusado o PS de “quebrar” as promessas eleitorais de aumento real de rendimentos e atirou acusações de austeridade a quem sempre a recusou. “Este Orçamento representa uma perda clara de rendimentos da função pública e dos salários gerais”, afirmou Rui Rio, sublinhando que os aumentos previstos no OE2022 para os funcionários públicos são abaixo dos 4% previstos para a inflação. Como Rio acredita que ela vai ser ainda maior, na casa dos 6%, afirma que “os portugueses vão ter uma perda de poder de compra de, pelo menos, 3 ou 4%”. “Se isto não é austeridade, o PS que diga o que é austeridade”, sublinhou.

Nos argumentos, Rio esteve mais próximo do BE e do PCP do que dos outros partidos à direita. Os antigos parceiros da “geringonça” também levaram a Marcelo Rebelo de Sousa as suas preocupações com a necessidade de aumentar salários e pensões para fazer face à inflação. “Sem controlo de preços e sem actualização de salários, do que estamos a falar é de um empobrecimento da população portuguesa, o que é uma estratégia errada do ponto de vista económico e uma política inaceitável do ponto de vista social”, defendeu Catarina Martins.

Também André Ventura, do Chega, lamentou a falta de flexibilidade do PS para adaptar o OE às novas condições de 2022: “Há hoje uma guerra na Europa, um surto inflacionário e uma pressão sobre os preços dos combustíveis” que não existiam quando o documento foi feito, frisou.

Chega e IL apontaram sobretudo à forma como o PS está a usar a sua maioria absoluta para “vetar, vetar, vetar” tanto as audições de responsáveis políticos em casos polémicos, como as propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2022. É, segundo João Cotrim de Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal (IL), “o desfazer da ideia, tantas vezes repetida pelo primeiro-ministro, de que à maioria absoluta não iria corresponder o poder absoluto”.

Inês de Sousa Real, do PAN, tinha dito algo parecido de manhã, quando afirmou que este OE era a “prova de fogo sobre o tipo de Governo que este executivo quer ser”. Mas foi Jerónimo de Sousa quem lembrou a importância de um banho de realidade: “Mais do que se confrontar com o PCP ou outros partidos, o Governo de maioria absoluta vai confrontar-se com a realidade, e a realidade é o agravamento das condições de vida”, afirmou.

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