Benfica quer ganhar. FC Porto só quer fazer a festa

“Clássico” pode fechar as contas do título para os “dragões”, que jogam com dois resultados em mente, empate ou vitória. Fora desta luta, “águias” só querem que o líder leve a festa para outro lado.

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Darwin e Pepe: um duelo que se vai repetir na Luz LUSA/JOSE COELHO

Festa molhada, às escuras e com banda sonora nada adequada. Há 11 anos, foi assim que o FC Porto celebrou a conquista do título de campeão em pleno Estádio da Luz, uma festa anunciada pela época dominante que teve e que seria apenas uma questão de tempo. Onze anos depois, a equipa portista volta a ter ao seu alcance uma festa em casa do Benfica, e, para que tal aconteça, só precisa de um ponto no clássico deste sábado (18h, BTV). Claro que a equipa de Sérgio Conceição prefere festejar com uma vitória, mas, acima de tudo, quer festejar o quanto antes e fechar a janela ao outro pretendente, o Sporting, que jogará, neste sábado, em Portimão. Já o Benfica, só quer que o rival leve a festa para outro lado. E, para que isso aconteça, tem de ganhar.

O 30.º título do FC Porto parece uma inevitabilidade, depois de uma época em que raramente mostrou fraqueza. Podia até já ter sido celebrado antes, não fosse o desaire frente ao Sp. Braga que quebrou o registo recorde de invencibilidade do “dragão”. Essa derrota foi mais simbólica do que outra coisa, não colocou propriamente em causa o favoritismo portista na corrida ao título, apenas prolongou por mais um par de semanas a incerteza. Mas Conceição, tal como já queria ter garantido o título há duas semanas, não vai querer deixá-lo no ar até à última jornada.

Se o Benfica vai, ou não, ligar o sistema de rega do relvado para encharcar a festa portista, e deixá-la às escuras enquanto toca em volume alto a voz de Luís Piçarra a cantar sobre camisolas berrantes e papoilas saltitantes, saberemos neste sábado. E se isso acontecer, é sinal de que o FC Porto ganhou ou empatou, um desfecho que tem sido recorrente em tempos recentes. Nos últimos dez clássicos, o Benfica ganhou apenas um (um 2-1 na Luz que lançou os “encarnados” para o título em 2019-19), enquanto o FC Porto venceu sete – mais dois empates. Como treinador do FC Porto, Conceição venceu oito vezes em 13 jogos, enquanto Veríssimo perdeu os seus dois embates com o “dragão” – um deles a final da Taça de Portugal em 2019-20.

Com a perspectiva de ser campeão pela terceira vez em cinco anos, Conceição reconhece que está tudo nas mãos da sua equipa. “Nós preparamos o jogo com entusiasmo e não com euforia. São coisas diferentes. Analisámos o Benfica em vários contextos e competições, mas não podemos adivinhar a estratégia do adversário e, por isso, vamos olhar para a nossa tarefa. É um jogo importante, como todos os outros que passaram”, analisou Conceição. “Vale três pontos importantes e pode ser um passo decisivo rumo ao título”, acrescentou.

O treinador portista reconhece, no entanto, que um Benfica-FC Porto é sempre um jogo especial que ninguém vai querer perder, independentemente do momento de cada uma das equipas, e está alerta para a motivação de um adversário que já não tem nada a ganhar, mas que também não tem nada a perder: “Não jogando para a classificação final, é um jogo em que estão empenhados. Vivem de títulos como nós, é um clube grande e querem deixar boa imagem aos adeptos. Dentro do que é um ‘clássico’, há sempre esse lado emocional e que muitas vezes não tem a ver com pontos, mas sim com o jogo em si e o peso do mesmo”.

O FC Porto pode acabar por celebrar o título na Luz, mas esta será uma conquista em quase todos os outros campos da I Liga esta época. Mesmo com a derrota em Braga, os portistas ainda podem, a duas jornadas do fim, ser campeões com uma pontuação recorde num campeonato de 34 jornadas – têm 85, podem chegar aos 91, ultrapassando o recorde de 88 estabelecido pelo Benfica de Rui Vitória em 2015-16 e pelo FC Porto no primeiro título com Conceição em 2017-18. O que têm até aqui é o resultado de 27 vitórias, quatro empates e uma derrota, com o melhor ataque (83 golos marcados) e a segunda melhor defesa (22 golos sofridos, menos um que o Sporting).

“Nada para festejar”

Ao contrário do FC Porto, o Benfica tem sido tudo menos um paradigma de estabilidade. Há muito que deixou de entrar nas contas do título – ficou matematicamente afastado do primeiro lugar à 29.ª jornada – e o apuramento directo para a Champions deixou de ser uma possibilidade no último fim-de-semana. Depois de um início prometedor, ainda com Jorge Jesus (cuja sombra continua a pairar), em que teve sete vitórias nas sete primeiras jornadas, a qualidade do futebol benfiquista foi-se degradando, com resultados a condizer, e ficou por cumprir a promessa de “jogar o triplo” e “arrasar”.

Foi entre clássicos com o FC Porto que o Benfica mudou de treinador. Depois de uma derrota por 3-0 nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, Jesus saiu pela porta pequena. E regressou Nélson Veríssimo, de novo promovido da equipa B para fechar a época. Estreou-se com nova derrota com os portistas (3-1) e a carreira no campeonato nunca se endireitou: em 17 jogos com Veríssimo na I Liga, o Benfica venceu dez, empatou quatro e perdeu três, para além de ter perdido a final da Taça da Liga. Salvou-se a campanha na Liga dos Campeões, onde chegou aos quartos-de-final.

O Benfica chega a este clássico já sem qualquer horizonte competitivo (já está fixo no terceiro lugar) e Veríssimo só está a tomar conta da loja enquanto não chega Roger Schmidt. Este será o seu último jogo na Luz e o antigo defesa-central gostaria de despedir-se dos adeptos com uma vitória que seria, sobretudo, simbólica.

“Estamos convictos de que iremos festejar a vitória porque, obviamente, não temos mais nada para festejar”, disse o ainda técnico benfiquista, admitindo que a época foi um enorme fracasso: “Temos consciência que não foi uma boa época enquanto clube, o nosso principal objectivo naturalmente seria o campeonato e estamos tristes.”

Apesar de mais uma época sem títulos, o Benfica tem dado alguns sinais de vida durante a época em momentos inesperados, como foram a eliminação do Ajax na Champions, o empate em Anfield com o Liverpool ou o triunfo em Alvalade frente ao Sporting. Veríssimo conta com um desses momentos neste clássico de final de época: “Esta equipa já deu provas de que está à altura dos jogos de maior dificuldade. E a equipa tem um grande orgulho quando o contexto à volta direcciona o resultado para um caminho que não é o que achamos que vai acontecer. Já demos provas disso: Ajax, Liverpool, o jogo em Alvalade. Acreditamos muito no que estamos a fazer, os jogadores acreditam no seu valor.”

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