Inflação na Turquia já está a chegar aos 70%

Estratégia económica de Erdogan continua a debater-se com uma escalada de preços, que tem vindo a agravar-se devido aos efeitos da guerra na Ucrânia

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A lira turca tem estado desde o ano passado sob pressão nos mercados EPA/SEDAT SUNA

A inflação na Turquia voltou, durante o mês de Abril, a ficar acima do previsto, atingindo um novo máximo das últimas décadas e continuando a colocar em causa a estratégica económica seguida pelo presidente Tayyip Erdogan.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelas autoridades estatísticas turcas, a taxa de inflação homóloga em Abril foi de 69,97%, com os preços a subirem mais 7,25% face ao mês imediatamente anterior. O resultado ficou acima daquilo que eram as expectativas dos analistas.

Para a nova subida da inflação contribuiu decisivamente a escalada de preços registada nos produtos associados a transporte, como os combustíveis, com uma variação homóloga de 105,9%. Nos produtos alimentares, a inflação foi de 89,1%.

A subida a pique da inflação na Turquia, que em Abril registou o valor mais alto dos últimos 20 anos, começou no final do ano passado e tem vindo a prolongar-se devido aos efeitos da guerra na Ucrânia nos preços da energia e dos produtos alimentares nos mercados internacionais.

No caso turco, contudo, ao contrário do que acontece na generalidade dos outros países, a política monetária seguida pelo banco central também está a desempenhar um papel fundamental no agravamento das pressões inflacionistas.

Desde Setembro do ano passado, o banco central turco tem vindo, ao contrário do que seria de esperar perante um agravamento da inflação, a aplicar uma política mais expansionista. Inicialmente, avançou para uma série de descidas das suas taxas de juro de referência, que baixaram cinco pontos percentuais, mantendo-as nos últimos meses fixas nos 14%, um valor que significa que, em termos reais (descontando a inflação), os juros se encontram a níveis muito negativos.

Esta política muito pouco ortodoxa do banco central é o resultado da vontade expressa do presidente do país. Erdogan, a par com presidente do banco central que nomeou, decidiu apostar numa estratégia económica que se baseia na ideia de que apenas com um aumento da competitividade da economia turca e com a passagem de um défice externo para um excedente se poderá definitivamente trazer a inflação para valores mais baixos. E, para garantir que a competitividade aumenta, defende o presidente, é preciso baixar os juros e fazer cair o valor da divisa.

O governo e o banco central continuam, nas suas previsões, a apostar que esta estratégia acabará por funcionar e que a inflação acabará por recuar depois de atingir um pico de 70% em Junho.

No entanto, esse valor já foi atingido em Abril, e continua a haver muitas dúvidas sobre a possibilidade de a Turquia conseguir travar este ciclo de subida dos preços sem ter de aplicar uma política muito mais restritiva, que conduza a economia para uma recessão.

Neste momento, aquilo que as autoridades turcas estão a tentar fazer é, mantendo as taxas de juro a 14%, tomar medidas que estimulem as empresas e as famílias a utilizar a lira turca, para impedir a queda do valor da divisa, e cortar os impostos aplicados a alguns bens, para mitigar a subida da taxa de inflação.

Noutras economias, os bancos centrais estão neste momento, depois de vários anos de políticas bastante expansionistas, a começar a retirar os estímulos monetários para arrefecer o consumo e o investimento e, assim, combater a subida da inflação. Nos Estados Unidos, esta quarta-feira, a Reserva Federal decidiu subir em meio ponto percentual a sua principal taxa de juro de referência. Na zona euro, a expectativa é, neste momento, a de que as taxas de juro do banco central comecem a subir durante a segunda metade deste ano, o que já está a fazer com que se assista a uma subida das taxas de juro Euribor, que servem de indexante à maior parte dos empréstimos concedidos em Portugal.

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