Um ano de Neemias na NBA: “Surreal estar ali no meio daquela gente toda”

O primeiro português na melhor Liga de basquetebol mundial fala da sua época de estreia e do futuro.

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Neemias Queta Daniel Rocha

Foram 119 minutos e 36 segundos que deram para 45 pontos, 31 ressaltos, seis assistências, oito desarmes de lançamento e um roubo de bola. Não parece muito, mas foi histórico. Estes foram os números totais de Neemias Queta como o 88 dos Sacramento Kings na sua estreia como o primeiro português a jogar na Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA). Um primeiro passo para uma carreira que se espera longa no melhor basquetebol do mundo. Uma realidade que antes Neemias seguia à distância pela televisão em transmissões pela madrugada, e que agora é a sua rotina diária.

“É surreal estar ali no meio daquela gente toda. Ver ao longe, na televisão, parece a vida de um filme”, contou o poste português num evento em Lisboa organizado pela Federação Portuguesa de Basquetebol. “Quando comecei, jogar na NBA não era um objectivo, era uma ideia. Era muito pequeno, não tinha noção do que tinha de trabalhar. Quando essa ideia passou a objectivo, tive de trabalhar para isso”, recordou Neemias sobre os primeiros passos que deu no basquetebol.

O que se seguiu é bem conhecido. Depois de uma carreira universitária brilhante nos Utah State Aggies e de ter entrado no radar da NBA como um “big man” com especial talento para a defesa, foi escolhido no draft de 2021 pelos Kings e esperou até 17 de Dezembro do ano passado para ter os seus primeiros minutos – “muitas horas a pensar nesse momento”. Onde brilhou verdadeiramente foi na G-League, pelos Stockton Kings, onde teve uma utilização constante e com números mais do que razoáveis – médias de 17,1 pontos e 7,7 ressaltos por jogo – para o manter em bom ritmo “sempre que ia para cima”.

Mas a primeira época já passou. O futuro imediato pode, ou não, passar pelos Kings, uma equipa de fundo da tabela da NBA que já não vai aos play off há 16 anos. O português tem contrato garantido com os Kings para 2022-23 – “temos uma boa relação”, garante -, mas o objectivo do gigante português de 2,13m de altura é “crescer e ser um poste dominante” na NBA, como são agora, por exemplo, Joel Embiid, que Neemias citou como o seu adversário mais impressionante durante a época.

“Entrar em tudo”

Neemias Queta estava neste final de manhã numa quadra de basquetebol para um evento promocional que incluiu um jogo de 3x3 com outros jogadores e celebridades – todos tinham o 88 nas costas e o equipamento da equipa de Neemias tinha grandes semelhanças com o primeiro que vestiu, o do Barreirense, nos tempos em que a NBA era apenas uma ideia na sua cabeça. E por ali ficou um par de horas a falar com jornalistas, a fazer uns afundanços e a tirar fotografias, num ambiente mais descontraído do que aquele que se tornou na sua rotina diária nos últimos anos.

Como “rookie” dos Kings, foi “obrigado” a ir fazer compras de supermercado para a equipa, uma das muitas praxes a que foi sujeito. Momentos numa vida nova em que a exigência subiu de patamar. Mas não é basquetebol 24 horas por dia: “O dia começa muito cedo. Chegamos ao pavilhão, treinamos em equipa, depois fazemos levantamento de pesos que é individual. Podemos ficar ali três ou quatro horas no pavilhão de manhã, à tarde é cada um por si. Eu às vezes costumo ir lá à noite treinar no que eu quero evoluir e à tarde são tempos livres, fazer o que gosto de fazer, sou muito novo. Gosto de jogar videojogos, ver TV, passear com os amigos, andar pela cidade.”

Neemias Queta, o primeiro português na Liga que já foi de Magic Johnson e Michael Jordan, não coloca fronteiras ao que pode fazer na NBA, nem tem nenhum modelo específico que queira seguir, garantindo que está a trabalhar no seu lançamento de longa distância, algo que, por enquanto, não é a sua especialidade. “Não há um jogador que queira seguir. Não ponho limites. Vejo alguém como o Steph Curry a lançar e quero lançar como ele, vejo alguém como o Kahwi Leonard a defender e quero defender como ele. Quero o que eles fazem de melhor e aprender para o meu jogo, para criar a melhor versão de mim. A NBA gosta muito de jogadores que sabem defender e essa vai ser a minha principal carta, o meu trunfo, mas quero evoluir, distribuir a bola, entrar em tudo.”

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