Quer ajudar as águias-perdigueiras? Pode fazer um juramento e tornar-se embaixador
Estas águias-de-bonelli da região de Lisboa são especiais: vivem muito perto das pessoas – e é por isso que existe um projecto para as proteger.
As águias-de-bonelli (também conhecidas como águias-perdigueiras) são muito esquivas e discretas, mas na região de Lisboa acontece algo “inusitado”: convivem de perto com os humanos, algo que não é comum para estas águias. Como isso também as deixa “mais sujeitas a ameaças”, foi lançado em 2021 o projecto Life LxAquila, que permite agora que qualquer pessoa faça um juramento online para ser “Embaixador das Águias”, explica ao Azul o coordenador do projecto, Joaquim Teodósio.
O juramento pode ser feito no site do projecto e tem quatro compromissos: não divulgar a localização dos ninhos de águias; manter a distância caso encontre uma águia pousada ou um ninho; alertar o SEPNA-GNR (808 200 520) se se aperceber de algum crime contra o ambiente; e passar a mensagem junto de amigos, colegas e familiares. De resto, é só dar o seu nome, um email e carregar em “Juro”. Com esse juramento, torna-se embaixador das águias e passará também a receber emails sobre o projecto e sobre estas águias perdigueiras.
Este projecto está a acompanhar pouco mais de uma dúzia de casais de águias-de-bonelli (de nome científico Aquila fasciata) e foca-se na região da Área Metropolitana de Lisboa, a norte e sul do rio Tejo. Como estas águias estão fora de zonas protegidas e perto de zonas urbanas, torna-se possível identificar algumas das regiões mais importantes em termos de biodiversidade. “É uma natureza não tão selvagem, mas relevante”, argumenta.
E como é possível identificar as águias-perdigueiras? Joaquim Teodósio, que também é coordenador do departamento de conservação terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), dá algumas pistas: “Têm um ventre muito branco, as asas são um bocadinho mais escuras. Têm uma mancha no dorso que quando se consegue observar é bastante distintiva e tem um pintalgado no ventre que ajuda a distinguir.” No geral, são águias muito esquivas e com um comportamento muito discreto, que faz com que não sejam fáceis de observar.
A nível global, o estatuto de conservação destas águias-perdigueiras é “pouco preocupante”, mas em Portugal encontra-se em perigo. Esta espécie sofreu um grande declínio no final do século passado, em grande parte devido a “alterações no habitat, perda de presas, alterações ao nível da agricultura, mesmo a perda de locais para nidificar”, explica Joaquim Teodósio. Mas a situação tem ficado “mais favorável” – o que é importante não só pela existência de águias, mas também por serem “um indicador do próprio ecossistema e do que se passa à nossa volta”.
Outros dos perigos para as águias-de-bonelli são os incêndios florestais, o risco de colisão e electrocussão, que são problemas “numa região com tanta população e tanta infra-estrutura em que as linhas abundam”. Já está prevista a correcção de algumas linhas eléctricas perigosas para as águias.
Águias com “mochilinha”
Nos “crimes contra o ambiente” mencionados no juramento encontramos o abate ilegal destas aves (que são das maiores de Portugal), o uso de armadilhas, fogo posto, corte não autorizado de árvores e áreas florestais, assim como episódios de poluição que podem afectar esta e outras espécies. Já o afastamento dos ninhos é pedido por ser nesta altura de reprodução que as águias se encontram “mais sensíveis”, precisando de mais calma e tranquilidade.
As águias-perdigueiras são predadoras e comem coelhos, perdizes e outros pássaros. Há quem não goste do facto de se alimentarem de outras espécies, mas “têm um papel importante neste equilíbrio da natureza”, alimentando-se até de espécies que podem tornar-se pragas. O coordenador do projecto diz que estes animais ajudam a “manter a natureza mais saudável em todos os patamares do ecossistema”.
O projecto LxAquila dura até 2025 e é financiado, em parte, pelo programa Life da Comissão Europeia e é coordenado pela SPEA. No site do projecto, foi possível acompanhar em directo o ninho de um destes casais de águias. Agora, “a cria já está grande e começou a fazer os primeiros voos”, mas as imagens captadas pela webcam permitiram acompanhar o crescimento desta jovem ave e até ver como os progenitores “a cobriam quando chovia para ela não levar com tanta chuva”, recorda Joaquim Teodósio.
A cria tem agora uma “mochilinha” no dorso que permite acompanhar o seu paradeiro através de sinais de GPS. A aplicação desta pequena mochila localizadora é feita quando a ave ainda não voa, mas permite que cresça e fique com o tamanho adulto sem condicionar o voo, explica o coordenador. O peso também é ajustado ao da águia. “É um aparelho que vai nas costas, tem um painel solar que vai recarregando a bateria e vai transmitindo a informação” ao longo de dois anos, diz Joaquim Teodósio. Este acompanhamento permite ver quais as zonas preferidas das águias e quais as possíveis ameaças.