Cientistas da Universidade de Aveiro criam novo método para reciclar plástico

Equipa de investigadores portugueses acredita que o trabalho publicado na revista Green Chemistry pode ser “um contributo para resolver um problema global”. Actualmente, há 400 milhões de toneladas de plástico produzidas todos os anos, mas só cerca de 10% é reciclado.

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Uma trabalhadora passa por uma enorme pilha de garrafas plásticas PET na maior fábrica de reciclagem da Ásia, na China REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) descobriu um processo “simples” e inovador para reciclar infinitamente polímeros, ajudando a solucionar a poluição dos plásticos, revela um comunicado da instituição divulgado esta quarta-feira. Actualmente, há 400 milhões de toneladas de plástico produzidas todos os anos, mas só cerca de 10% acaba por ser reciclado. O artigo foi destacado na capa da revista Green Chemistry.

“Desenvolvemos uma forma simples, mais verde e contínua de fazer reciclagem de poliésteres, uma das famílias de polímeros mais utilizadas no fabrico de plásticos, tais como o PET, de origem petroquímica, muito utilizado em garrafas de plástico tipicamente utilizados uma só vez”, explica Andreia Sousa, investigadora do Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO), uma das unidades de investigação daquela Universidade.

O comunicado destaca que faltam novas soluções para tratar estes plásticos “feitos de polímeros como o PET, muito utilizados em garrafas que são descartadas após uma única utilização ou reciclado um número limitado de vezes já que o processo tende a diminuir a performance do material”. “Esta limitação leva a que a maioria dos plásticos acabe em aterro, ou disperso, contribuindo para graves problemas ambientais, além de requerer um maior consumo de recursos fósseis para produzir mais matérias-primas”, acrescenta o mesmo documento.

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Os investigadores Beatriz Agostinho Andreia Sousa e Armando Silvestre DR

Processo simples e infinito

A equipa de investigação demonstrou ser possível reciclar poliésteres “com o recurso a solventes eutécticos, uma mistura de dois ou três compostos químicos que têm um ponto de fusão mais baixo do que os componentes originais, oferecendo vantagens como baixa toxicidade, biodegradabilidade, sustentabilidade e preparação simples”. “O uso desses solventes no processo introduziu uma grande novidade que é o facto de o processo ser realizável num único passo, para além de ser muito simples e poder ser repetido infinitamente”, descreve.

A coordenadora do estudo espera que o trabalho “possa ser um contributo para resolver um problema global”. “Hoje em dia, as formas existentes para reciclar estes poliésteres são limitadas, porque após alguns ciclos de reciclagem os polímeros perdem performance e deixam de poder ser utilizados em aplicações de alto valor”, diz.

Reciclar quimicamente um polímero como o PET implicava, até agora, várias etapas, algumas demoradas e pouco sustentáveis, mas com a descoberta da equipa da UA, além de o polímero reciclado manter sempre as propriedades originais, o processo é realizado num único passo.

Estima-se que cerca de 4900 milhões de toneladas de polímeros estejam acumuladas em ambientes naturais, terrestres e aquáticos, nomeadamente os PET. “A criação de soluções de economia circular para a reutilização e valorização de resíduos poliméricos são desafios globais e estão em linha com a visão da União Europeia para a economia verde e azul e com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, sublinha a investigadora.

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