Esquerda quer valorizar salários e PCP avisa que a resposta está na luta dos trabalhadores

PS, PCP e Bloco marcaram presença na manifestação da CGTP. Antigos parceiros da geringonça criticam Governo por não ter medidas concretas para combater a inflação.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O PS, o Bloco e o PCP defenderam hoje a necessidade de valorização do trabalho e dos salários, com os dois últimos partidos a insistirem na importância de os salários serem aumentados de forma a compensar a subida da inflação, mas também de os horários de trabalho serem respeitados. O líder comunista vincou mesmo que a resposta ao aumento de preços “não é com subsídios aqui ou acolá; resolve-se com a valorização dos salários e dos trabalhadores”.

Os três partidos marcaram presença na tradicional manifestação do 1.º de Maio da CGTP, em Lisboa. O secretário-geral adjunto do PS, João Torres, esteve à conversa com a líder da CGTP, Isabel Camarinha antes do arranque do desfile, e garantiu que o PS está “muito comprometido com a valorização do trabalho” - de que é exemplo a Agenda do Trabalho Digno e o combate que esta faz à precariedade -, e que quer negociar em sede de concertação social.

Porém, a líder sindical respondeu-lhe com um pedido de “mudança de rumo” para acabar com “política de baixos salários”, alertando para a “brutal perda de poder de compra” devido à inflação. “Sempre disponíveis para dialogar, mas o diálogo tem de ter consequências e o que está em cima da mesa não o garante”, avisou Isabel Camarinha que deixou a porta aberta: “Vamos encontrar as respostas e as soluções.”

Na conversa amena que mantiveram perante as câmaras de televisão, João Torres contrapôs que foi “com o ciclo da governação do PS que se repuseram os [valores dos] cortes nos rendimentos, que se descongelou a progressão das carreiras e se reiniciou o ciclo de anualização anual” dos salários. E que o objectivo do Governo é aproximar da média europeia o peso dos salários no PIB em Portugal - como António Costa vincara também esta manhã no Twitter. “Não temos o entendimento de que este Orçamento do Estado seja de austeridade é cortar salários e pensões”, afirmou ainda João Torres, defendendo a opção do Governo de que, no contexto inflacionista, “o mais importante é intervir nas causas, nas raízes do problema”.

Jerónimo de Sousa admite que será difícil alterar o OE2022

“Esta grande manifestação tem como objectivo a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a questão fundamental da valorização dos salários e pensões, dos profissionais de saúde, da escola pública e dos pequenos e médios empresários”, destacou Jerónimo de Sousa que participou na manifestação. “Em relação a esses objectivos, o PCP fará tudo para conseguir essa valorização que é devida aos trabalhadores”, prometeu.

O secretário-geral do PCP admitiu que será “difícil” introduzir muitas alterações no Orçamento do Estado já aprovado na generalidade e, questionado se essa luta poderá passar por mais manifestações na rua, respondeu afirmativamente. “É evidente que a melhor resposta será a da luta dos trabalhadores, podem contar com solidariedade do PCP”, disse. “Em Portugal existe este fenómeno de trabalhar e empobrecer ao mesmo tempo, não pode ser.”

“O Governo apresentou uma proposta de Orçamento que correspondia ao que tinha levado às eleições”, criticou o líder comunista que destacou que “além da pandemia, das sanções, da guerra”, são “os aumentos de preços, incluindo no plano alimentar, que preocupam os portugueses”. “Então como é que isso se resolver? Não é com subsídios aqui ou acolá, resolve-se com a valorização dos salários, dos trabalhadores”, defendeu.

Questionado se concorda com o BE, que no sábado acusou o PS de ter fechado “em definitivo o breve parêntesis aberto com a geringonça”, o secretário-geral comunista admitiu que “não foi nenhuma surpresa” o objectivo de o Governo socialista conseguir a maioria absoluta para poder “desvalorizar estas questões que levaram o PCP a tomar a posição que tomou”, de votar contra em Outubro a proposta de Orçamento, o que acabou por resultar em eleições antecipadas.

Catarina Martins critica obsessão pelo défice

“Há duas exigências fundamentais que toda a gente que trabalha em Portugal sente. A primeira é que os salários sejam actualizados pela inflação, a inflação está a comer os salários, está a comer as pensões num país que já tem os salários mais baixos da Europa”, lamentou Catarina Martins. A segunda “luta fundamental” é a do tempo de trabalho. “Em Portugal, generalizam-se as horas longas, o trabalho por turnos, o trabalho nocturno. Cada vez se trabalham mais horas por um salário tão pequeno”, lamentou, defendendo ser necessário “respeitar quem trabalha, os seus horários e a sua saúde”.

Quanto à perda de poder de compra, a coordenadora do BE referiu que “as rendas subiram 75% nos últimos anos” e contestou que não seja possível subir salários. Questionada se o BE vai apresentar propostas nesta área na especialidade da discussão do Orçamento do Estado, a coordenadora bloquista assegurou que o partido “nunca deixa de se empenhar”, mas criticou o ponto de partida do Governo.

“Não é aceitável o Governo dizer que apresenta o mesmo Orçamento do Estado que tinha em Outubro porque ganhou eleições. Em Outubro ninguém sabia que a inflação ia estar como está hoje; em Janeiro, quando as pessoas foram votar, seguramente não sabiam que os preços iriam subir quatro vezes acima do aumento dos salários”, criticou. E acusou o Governo português de, no contexto europeu, ser “o único que acha que tem de cumprir a meta do défice”. “Parece-nos injustificável e é um ataque aos salários, às pensões e ao Estado social em Portugal porque os serviços públicos continuam com o mesmo orçamento, mas também vão comprar tudo mais caro”, alertou.

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