Parlamento alemão aprova entrega de armamento pesado a Kiev

Scholz escolhe Japão para primeira vista à Ásia – a relação da Alemanha com a China está a mudar por causa da invasão russa da Ucrânia.

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O chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, esta quinta-feira em Tóquio YOSHIKAZU TSUNO /EPA

O Parlamento alemão aprovou esta quinta-feira, por uma grande maioria, uma moção pedindo o envio de armamento pesado à Ucrânia – uma moção em que também são previstas sanções à China caso Pequim resolva ajudar a Rússia durante a invasão da Ucrânia.

A moção contou com o voto a favor de 586 deputados, 100 votos contra e sete abstenções - um grau de consenso assinalável, que aconteceu depois de o Governo, formado pelo Partido Social Democrata (SPD), Verdes e Partido Liberal Democrata (FDP) ter chegado a acordo com o principal partido da oposição, a União Democrata Cristã (CDU/CSU), para uma moção. O Governo vinha a recusar enviar armamento pesado e a CDU/CSU ameaçava levar a votação uma moção para pressionar o chanceler, Olaf Scholz.

A Alemanha tinha antes anunciado o envio de tanques Gepard (Cheetah, na versão inglesa, com sistemas de artilharia anti-aérea), mas Scholz classificou-os como armamento “defensivo” (vários especialistas militares comentaram que essa discussão não tem grande relevância, dado que se a arma é defensiva ou ofensiva depende mais vezes do contexto do que do tipo de arma).

A resolução pede ao Governo para “onde possível, acelerar” a entrega de armas, “e também de armamento pesado e sistemas complexos” à Ucrânia. A Alemanha estava para já a apoiar a Ucrânia com envio de armas ligeiras, mas sondagens indicam que uma maioria apoia o envio de armamento pesado a Kiev.

A moção vai além da questão das armas: diz que um acordo de paz com a Rússia não pode ser decidido “por cima dos ucranianos”.

E ameaça também a China com consequências se Pequim quebrar o embargo à Rússia ou entregar armas a Moscovo, apelando ainda à China que “abandone o seu apoio à guerra russa”.

No mesmo dia em que o Parlamento aprovava esta moção, o chanceler, Olaf Scholz, aterrava em Tóquio para a sua primeira viagem à Ásia: ao Japão e não à China. Thorsten Benner,​ analista do centro de estudos Global Public Policy Institute (GGPi), de Berlim, comentava, no Twitter, que o chanceler e dois conselheiros próximos de Scholz sublinharam a importância desta viagem como um sinal claro a Pequim de que algo mudou.

Foi um contraste com a anterior chanceler, Angela Merkel, que fez das boas relações com Pequim uma prioridade: Merkel fez a sua primeira visita na região à China, onde esteve o dobro das vezes do que no Japão, nota a agência Reuters. Muitas empresas alemãs beneficiaram do crescimento económico do país.

Também a formulação da resolução aprovada no Parlamento em relação à China tem “uma linguagem notável que a China desencadeou com a sua posição nos últimos meses”, escreveu Thorsten Benner. A China tem tido uma política de relativa ambiguidade, lida como apoio, em relação à Rússia na Ucrânia.

A invasão russa da Ucrânia deitou por terra muitas convicções em que assentava a política externa da Alemanha, e deixou Berlim a braços com um problema, a sua dependência de energia russa.

Isso tem efeitos na sua relação com a China – as preocupações com a segurança são agora muito maiores do que o foco na política comercial e ganhos económicos.

Na conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida, ambos sublinharam a rejeição de mudanças de fronteiras pela força – na Ucrânia pela ofensiva russa, no presente, mas também potenciais tentativas futuras de acções na Ásia.

“Mudanças no statu quo pela força é algo que tem de ser evitado não só na Europa mas também no Indo-Pacífico, especialmente na Ásia Oriental”, disse Kishida.

Scholz, pelo seu lado, disse ainda que o proteccionismo não era “uma opção”, em especial “para países abertos, de comércio livre, como a Alemanha e o Japão”. A resposta, continuou, é “uma globalização diferente, uma globalização mais inteligente”.

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