Base naval chinesa nas Ilhas Salomão é fake news, diz Pequim

Apesar da crescente tensão entre China e Austrália, Pequim garante que do acordo para a cooperação militar com as Ilhas Salomão não resultará a construção de uma base militar no arquipélago do Pacífico.

Foto
"Fake News": China nega as acusações sobre planos para construir uma base naval nas Ilhas Salomão, "quintal" australiano Reuters/China Stringer Network

As tensões entre China e Austrália continuam a subir de tom. Assinado um acordo para a cooperação militar entre Pequim e as Ilhas Salomão, ficam dúvidas sobre as intenções chinesas ao movimentar forças militares para o “quintal” australiano, como lhes chamou a ministra do Interior de Camberra, Karen Andrews.

Em resposta a acusações dos Estados Unidos, Japão e Austrália, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês garantiu, nesta quinta-feira, serem “fake news” as denúncias sobre a futura construção de uma base militar no Pacífico. O compromisso prevê apenas a garantia da ordem social, acções humanitárias, apoio em caso de catástrofes naturais, entre outras áreas de “benefício mútuo”, assegura Pequim.

“Insistimos para que potências deixem de alimentar a ‘teoria da ameaça militar da China’ e tomem medidas práticas que conduzam à paz, estabilidade e prosperidade no Pacífico Sul”, pediu o representante da Defesa do país, em declarações aos jornalistas.

Apesar das garantias de Pequim, a Austrália deixa o aviso: uma base militar chinesa seria ultrapassar uma “linha vermelha”, disse o primeiro-ministro, Scott Morrison, criticado por não ter agido rápido o suficiente para evitar as negociações.

Os serviços secretos australianos já assumiram ter receio de que o novo pacto de segurança permita ao Governo chinês levar a cabo acções “cruéis”, como as usadas para reprimir protestos contra o executivo, em Hong Kong. Temem, ainda, que numa nação “frágil e volátil” como as Ilhas Salomão, o policiamento da gigante asiática só traga “mais instabilidade e violência”.

Os Estados Unidos também reagiram, e garantem não excluir a hipótese de uma intervenção militar, caso a China avance com a presença militar permanente nas Ilhas. Uma preocupação a que os EUA responderiam “muito naturalmente”, caso confirmada, afiançou um representante da administração Biden.

Ainda esta semana, uma delegação japonesa visitou o arquipélago para expressar a sua “preocupação” com a segurança de toda a região da Ásia-Pacífico.

Ilhas Salomão acusam críticos de promover “desinformação"

Embora os detalhes do acordo ainda não sejam públicos, um rascunho divulgado no final de Março concede à marinha chinesa um porto a 2000 km da costa australiana. O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, nega que a resolução permita à China erguer uma base naval. “Ao contrário da desinformação promovida por críticos do Governo, a colaboração com a China não se trata de estabelecer uma base militar nas Ilhas, mas sim de ajudar o nosso Estado a resolver ameaças à sua segurança”, defendeu, nesta segunda-feira.

Pequim passa a poder enviar navios de guerra para a região e o arquipélago ganha o direito de pedir “polícia armada, militares das Forças Armadas e forças de intervenção para manutenção da ordem” na nação.

O acordo, clara tomada de posição dos chineses contra a Austrália, é mais um golpe numa relação diplomática já fragilizada, depois de, em Outubro, Camberra ter assinado um pacto com os EUA e o Reino Unido para a região do Indo-Pacífico. A prioridade da aliança será ajudar a Austrália a obter uma frota de submarinos nucleares que, face à rivalidade com Pequim, podem ser postos em locais estratégicos e com secretismo, junto à costa do país.

No início da pandemia, o Governo australiano insistiu numa investigação sobre a origem do surto de covid-19 em Wuhan e acentuou um mal-estar já antigo. Desde então, Pequim impôs sanções às exportações australianas e limitou contactos diplomáticos entre ambos.

Após um período de acalmia, nas décadas seguintes ao final da Guerra Fria, a presença militar no Pacífico pode agora ganhar novo fôlego, numa altura marcada pelo escalar de tensões entre grandes potências internacionais.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários