A estranha morte de seis oligarcas russos desde o início de 2022

Só na última semana, num período de 48 horas, dois multimilionários de Moscovo foram encontrados mortos, assim como as suas famílias, em alegados homicídios e suicídios que ficam por explicar.

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Só na última semana, num espaço de 48 horas, dois oligarcas russos foram encontrados mortos, enquanto as tropas de Putin avançam na Ucrânia EPA/YURI KOCHETKOV

Ainda antes de ser eleito, em 2000, Vladimir Putin prometeu tomar medidas contra a oligarquia russa, muito criticada na década de 1990. Sob o seu Governo, “deixariam de existir como classe”. Contudo, o problema de Putin não era uma elite que enriquecia à custa da privatização de antigas empresas estatais. Era, antes, uma oposição poderosa.

Em duas décadas na presidência, terá levado a cabo perseguições que obrigaram magnatas ao exílio, além dos que foram mortos ou presos. Sobrou a oligarquia que, em silêncio, financiou Putin.

Só na última semana, num período de 48 horas, dois multimilionários foram encontrados mortos, assim como as suas famílias, em alegados homicídios e suicídios que ficam por explicar.

Em 2022, pelo menos seis oligarcas russos foram encontrados mortos, em cenários semelhantes:

Mikhail Watford

No final de Fevereiro, Mikhail​ Watford foi encontrado morto em casa no Reino Unido. A mulher e os filhos também estavam em casa, mas não ficaram feridos. As autoridades locais disseram à BBC não considerar as circunstâncias da morte suspeitas.

Vasili Melnikov

Encontrado morto no final de Março no seu apartamento de luxo em Nijni Novgorod, ao lado da mulher e dos filhos. De acordo com o jornal russo Kommersant, três homicídios e um suicídio. Vasili ​Melnikov era um dos gestores da clínica MedStom.

Vladislav Avaiev

A 18 de Abril, Vladislav ​Avaiev, a mulher e a filha, de 13 anos, foram encontrados mortos num apartamento em Moscovo, avançou a TASS, agência de notícias controlada pelo Kremlin. O multimilionário estaria a segurar uma arma, usada para assassinar a família e suicidar-se. Avaiev era o antigo vice-presidente do Gazprombank, um dos maiores bancos da Rússia.

Serguei Protosenia

Dois dias mais tarde, uma história parecida: Serguei ​Protosenia, a mulher e a filha, de 18 anos, foram encontrados mortos numa moradia em Espanha, de acordo com a emissora espanhola Telecinco. As autoridades não descartam a hipótese de todos terem sido assassinados.

Protosenia foi gestor da Novatek, gigante russa do gás natural, e acumulava uma fortuna de centenas de milhões de dólares.

A estes nomes juntam-se Alexander Tiuliakov e Leonid Shulman, antigos gestores de topo da Gazprom, encontrados mortos na Rússia (a 25 de Fevereiro e a 30 de Janeiro, respectivamente) junto a bilhetes escritos pelos próprios, o que levou as autoridades locais a acreditar em suicídio.

Ainda que existam suspeitas generalizadas de que estes homicídios e suicídios tenham sido encenados, resta a dúvida sobre quem o fez e que motivações tornaram estes multimilionários alvos a abater.

Putin não quis pôr fim à oligarquia, mas à oposição

A repressão do Kremlin contra magnatas intensificou-se no começo do século, quando Putin assumiu a presidência, com uma série de acusações judiciais por evasão fiscal. Um dos primeiros alvos foi a Avtovaz, grande fabricante automóvel russa, associada a Boris Berezovski, que sobreviveu a várias tentativas de assassínio. Suicidou-se, ao que tudo indica, na sua mansão no Reino Unido, em 2013.

Em 2018, um amigo próximo de Berezovski, Nikolai Glushkov, que se exilou no Reino Unido após cumprir uma pena de cinco anos por fraude fiscal, foi também encontrado morto. O aparente suicídio seria depois entendido como um assassinato por estrangulamento. O culpado nunca foi identificado.

Putin quis deixar claro quem mandava. As opções eram claras: ou aceitavam as vontades do Presidente, ou a sua fortuna, empresas, bens e, no limite, a sua vida, estariam sob ameaça. Nos anos seguintes, uma limpeza: dezenas de opositores detidos, forçados ao exílio ou assassinados.

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