Wet Leg: o tédio delas é a nossa alegria

Aborrecimento e desencanto transformados em efusividade pop, energia rock’n’roll, desejo de abandono na pista de dança.

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As Wet Leg são o mais próximo que tivemos recentemente de novo fenómeno britânico. Justificado Hollie Fernando

“I just need a bubble bath to send me into a higher path”. Eis a despedida, trinta e poucos minutos e doze canções depois. Fim de festa. “I’m not sure if this is the kind of life/ That I saw myself living”, cantavam elas pouco antes. Elas, as Wet Leg, banda fenómeno para tempos em que já não existem bandas fenómeno e em que, se alguma publicação anglo-saxónica imprime em parangonas a palavra “buzz”, no sentido de estar em crescendo o burburinho provocado pela nova revelação no pedaço, preparada para tomar o mundo, isso nada diz sobre a banda, apenas sobre o inapelável saudosismo de quem recorre à expressão. E, no entanto, o duo formado na Ilha de Wight por Rhian Teasdale e Hester Chambers chegou até nós com estrondo, em crescendo realmente similar à de tempos idos: com a pandemia ainda presente, elas a ocuparem o tempo a fazerem canções e vídeos, a treinarem skate e surf, a assinarem pela Domino, a serem elogiadas por pesos pesados como Iggy Pop e Elton John, a serem convidadas pelos Idles para uma digressão, a serem cobertas de elogios pela forma como traziam a diversão novamente para o coração do indie, o que quer que isso, indie, signifique no ano da Graça de 2022 — tudo isto quando tinham apenas um par de singles para mostrar. Buzz, portanto. Diversão, certamente. E, no entanto: “I’m not sure if this is the kind of life/ That I saw myself living”, cantam na despedida, voz aborrecida, a derrota do tédio tornada vitória enquanto a guitarra corre na pista de dança.

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