Crise climática coloca em risco 4% do PIB mundial

Estudo da agência S&P prevê não só a redução do crescimento económico mundial mas também um impacto desigual em diferentes países. O Sul da Ásia é a região mais exposta.

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População numa rua inundada em Gaibandha, no Norte de Bangladesh, em 2019 Reuters

As mudanças climáticas podem não só levar à redução de 4% do crescimento económico mundial anual até 2050, mas também afectar várias partes mais pobres do mundo de forma desigual, estima um novo estudo que envolveu dados de 135 países. A agência de notação financeira Standard & Poors Global (S&P Global), que atribui aos países pontuações de crédito com base na saúde económica de cada um, publicou um relatório na terça-feira que analisa o provável impacto da subida do nível do mar e de eventos extremos - como ondas de calor, secas e tempestades – mais intensos e frequentes.

Num cenário base em que os governos se esquivam de grande parte das medidas de mitigação e adaptação das alterações climáticas – conhecidas como “RCP 4.5” pelos cientistas –, os países de renda média e baixa provavelmente terão perdas de Produto Interno Bruto (PIB) 3,6 vezes maiores em média do que os mais ricos.

O facto de países como Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka estarem mais expostos a incêndios florestais, inundações, grandes tempestades e também escassez de água significa que o Sul da Ásia tem 10% a 18% do PIB em risco. Trata-se de um risco três vezes maior do que o da América do Norte e 10 vezes o da Europa, a região do planeta com menos risco estimado neste estudo.

As regiões da Ásia Central, do Oriente Médio e do Norte da África e da África Subsaariana também enfrentam perdas consideráveis. Os países do Leste Asiático e do Pacífico apresentam níveis de exposição semelhantes aos da África Subsaariana, mas sobretudo devido às tempestades e inundações (e não de ondas de calor e seca hidrológica).

“Em diferentes graus, [a crise climática] é um problema para o mundo inteiro”, disse o director de análise de crédito global da S&P, Roberto Sifon-Arevalo.

Os países próximos da linha do Equador ou pequenas ilhas tendem a estar mais em risco, ao passo que as economias mais dependentes de sectores como a agricultura provavelmente serão mais afectadas do que aquelas que têm o sector terciário mais desenvolvido.

Para a maioria dos países, a exposição à crise climática, assim como os custos sociais e económicos que daí advêm, já estão a aumentar. Nos últimos 10 anos, tempestades, incêndios florestais e inundações causaram perdas globais de cerca de 0,3% do PIB por ano, de acordo com a seguradora Swiss Re.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) também calcula que, em média, um desastre associado ao clima ou à água ocorreu em algum lugar do mundo todos os dias nos últimos 50 anos, causando 115 mortes diárias e mais de 202 milhões de dólares em perdas diárias.

Escala de rating móvel

Sifon-Arevalo, da S&P, afirmou à Reuters que alguns países já sofreram reduções de classificação de crédito devido a eventos climáticos extremos, como algumas ilhas do Caribe após grandes furacões. No entanto, o responsável referiu que estes novos dados ligados ao clima não serão em breve inseridos nos modelos de notação financeira da S&P, uma vez que ainda não se sabe como os países podem se adaptar às mudanças.

Um estudo realizado em 2021 por um grupo de universidades do Reino Unido concluiu previu que mais de 60 países poderiam ver suas classificações prejudicadas até 2030 devido à crise climática.

Alguns especialistas no sector da notação financeira já sugeriram uma escala móvel para classificações. Nessa categoria móvel, os países altamente expostos teriam uma pontuação de crédito para os próximos 10 anos (ou mais) e outra para o futuro, quando os problemas provavelmente surgirem. “Nós esforçamo-nos para dizer o que é relevante e onde [neste estudo da S&P Global]. Mas não classificamos [os países] tendo em mente o pior cenário possível, é sempre tido em conta um cenário base”, esclareceu Sifon-Arevalo.

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