Rússia tenta neutralizar envio de armas estrangeiras para a Ucrânia

Corredor humanitário para retirar civis do complexo Azovstal caiu por terra por falta de acordo entre Moscovo e Kiev. Reino Unido diz que morreram 15 mil militares russos desde o início da invasão.

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Tanque russo capturado pelo Exército ucraniano OLEG PETRASYUK / EPA

As tentativas de alcançar um acordo para a retirada dos civis que estão cercados na fábrica metalúrgica Azovstal, em Mariupol, voltaram a sair goradas esta segunda-feira. A Rússia tinha anunciado que iria abrir um corredor humanitário, mas as autoridades ucranianas disseram não confiar nas condições de segurança garantidas por Moscovo.

O Ministério da Defesa russo disse que ia decretar um cessar-fogo em torno do enorme complexo industrial que é hoje a última bolha de resistência das forças ucranianas à ocupação de Mariupol, cidade portuária no Mar de Azov. Segundo Kiev, encontram-se em Azovstal cerca de mil pessoas, entre civis e elementos do Batalhão Azov, uma antiga milícia paramilitar de inspiração neonazi que foi integrada no Exército ucraniano.

No entanto, o Governo de Kiev disse não ter chegado a acordo e acusou a Rússia de estar a tomar decisões de forma unilateral. “Um corredor anunciado unilateralmente não garante segurança e, por isso, não pode ser considerado um corredor humanitário”, afirmou a vice-primeira-ministra Irina Vereshchuk. A Ucrânia tem acusado as autoridades russas de deportações forçadas de cidadãos ucranianos, enquanto Moscovo diz que essas acções são humanitárias.

No terreno, a Rússia bombardeou cinco estações ferroviárias num período de uma hora, de acordo com os serviços de comboios ucranianos. Os ataques, que se centraram no oeste e centro do país, deixaram cinco mortos. O objectivo dos bombardeamentos destas infra-estruturas é o de tentar travar o fornecimento de armamento por parte de outros países, que se têm comprometido em enviar mais apoio militar à Ucrânia.

Apesar de ter fixado no controlo sobre o Donbass, no extremo leste da Ucrânia, o seu objectivo principal, as forças russas têm continuado a bombardear outras regiões do país.

As autoridades da Transnístria, uma região controlada por separatistas pró-russos no território da Moldova, revelaram que um edifício governamental foi visado por granadas. Imagens do edifício da agência de segurança local, na cidade de Tiraspol, mostravam fumo a sair de janelas partidas. Não foram registados feridos nem mortos.

As autoridades locais não revelaram a origem do ataque, mas o incidente alimenta os receios de que o conflito na Ucrânia se possa estender a outros países. Na semana passada, um general russo afirmou que um dos objectivos do Kremlin na invasão da Ucrânia é o de garantir um acesso terrestre à Transnístria, o que implica a ocupação de toda a costa do Mar Negro, incluindo a cidade de Odessa.

Apesar de se encontrar dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Moldova, a Transnístria é governada desde o início dos anos 1990 por um governo separatista apoiado por Moscovo, que tem também ali estacionados permanentemente milhares de tropas. Kiev receia que este território possa servir como base para ataques contra outras regiões do país.

O Governo britânico estima que perto de 15 mil militares russos tenham morrido desde o início da invasão e que mais de dois mil veículos blindados tenham sido destruídos ou capturados. Os números revelados pelo secretário da Defesa, Ben Wallace, durante uma audição parlamentar são mais baixos em comparação com as estimativas ucranianas, que apontam para mais de 20 mil militares russos abatidos.

A Rússia, tal como a Ucrânia, não tem revelado publicamente os números das suas baixas, mas há poucas semanas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitiu um “número significativo de perdas” entre as fileiras russas.

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