No Iraque, os ambientalistas lutam pela sobrevivência dos leopardos-da-pérsia

No Iraque, o habitat do leopardo-da-pérsia tem vindo a desaparecer. A ambientalista curda Hana Raza estima que ainda haja 25 indivíduos da espécie no Iraque.

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Ambientalistas do Curdistão, no Iraque. Reuters/CHARLOTTE BRUNEAU

Ao atar uma armadilha fotográfica ao tronco de uma árvore na montanha Bamo na região do Curdistão, no Iraque, os irmãos Bahez e Nabaz Farooq Ali esperam capturar imagens do leopardo-da-pérsia, espécie que só conta com mil exemplares, no meio selvagem, por todo o mundo.

“Os nossos avós viam alguns mesmo durante o dia”, diz Nabaz. Desde essa altura, os leopardos começaram a desaparecer.

Grande parte dos leopardos-da-pérsia encontra-se no Irão e no Afeganistão. A ambientalista curda iraquiana Hana Raza estima que ainda haja 25 deles no Iraque. O animal é listado como “em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês).

Actualmente, ambientalistas no Curdistão defendem a intensificação dos esforços para proteger a espécie, cuja sobrevivência os preocupa cada vez mais. A dramática perda do habitat, avanço da presença humana, a caça e o impacto da guerra são algumas das razões que levaram à condição ameaçada dos leopardos. Raza estima que 25 seja um número abaixo do necessário para uma população viável.

Soran Ahmed, biólogo na Universidade de Sulaimani que monitoriza o leopardo, afirma que já foram registados outros dez animais vivos. Contudo, cerca de dez também foram encontrados mortos, na última década. Ahmed viu dois deles a serem baleados, conta.

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Cria de um leopardo-persa LUSA/THOMAS BANNEYER

O leopardo-da-pérsia está a ficar sem habitats

Quando os irmãos Ali voltaram para Horen, em 1991, após terem sido desalojados após uma violenta campanha de Saddam Hussein contra os curdos, viram a sua vila ficar deserta e parcialmente em ruínas. “Quando as pessoas regressaram para reabilitar as suas vilas, também começaram a caçar de forma aleatória”, diz Nabaz. A caça de presas dos leopardos, como as cabras-selvagens, contribui para a redução do número dos felinos.

Embora a caça de espécies em perigo seja proibida na região do Curdistão, no Iraque, e qualquer pessoa que seja apanhada esteja sujeita a uma multa, as regras podem ser difíceis de aplicar, afirma Akram Saleh, elemento da Guarda Florestal local. “A área é muito grande e não temos os recursos necessários para a cobrir”, refere. “Os caçadores têm melhores armas e melhores carros do que nós.”

Em algumas partes da montanha Bamo, as minas terrestres colocadas durante a guerra entre o Irão e o Iraque, nos anos 1980, pelos dois países têm afastado humanos e animais de algumas áreas onde estão leopardos, diz Nabaz. Todavia, as minas tornam o trabalho dos investigadores mais perigoso e afectam também os animais.

Implementar planos de gestão de conservação é importante para assegurar a sobrevivência dos leopardos, afirmam os ambientalistas.

De acordo com os dados do Governo Regional do Curdistão (KRG), a região perdeu quase metade da sua área florestal entre 1999 e 2018, o que levou a uma redução drástica no habitat potencial dos leopardos-da-pérsia.

Razzaq al-Khaylani, porta-voz do Conselho do Ambiente do KRG, refere que a falta de fundos públicos para a conservação e o conflito recorrente têm deixado de lado algumas iniciativas.

Desta forma, por enquanto, na montanha Bamo, os irmãos Ali estão a tentar proteger o habitat dos leopardos, envolvendo a comunidade local. Quando, em 2020, um investidor privado criou uma pedreira de calcário perto, os irmãos encabeçaram uma campanha para travar as operações. “Lugares como a montanha Bamo, se for efectivamente protegida, torna-se num sítio de acasalamento”, afirma Ahmed. “Temos de os salvar [os leopardos], eles fazem parte da nossa cultura e identidade.”

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