A Terra equilibra-se com dinheiro... verde

Como o mercado não funcionou – devido à sua maior falha, a ausência de pensamento sistémico –, agora temos uma presença intensa de regulação, para limitar os impactes ambientais e sociais negativos dos cidadãos e empresas.

Viver em desequilíbrio galopante é penoso, faz mal, desgasta-nos e desgasta os outros. Ter um Planeta Terra em crescente desequilíbrio, faz-nos viver com inconstância, incertezas e em risco. Todos os dias da Terra esse desequilíbrio é referido por milhares de pessoas.

De que o Planeta Terra está em desequilíbrio já poucas pessoas têm dúvidas. Vários relatórios científicos têm vindo a ser cada vez mais claros: a degradação do planeta está a acelerar, e tal é resultante da atividade humana. Os impactes dessa degradação no sistema económico-social estão também a ser sentidos, de forma crescente, pela atividade humana. Ou seja, os humanos criam o impacte ambiental e sofrem com ele. A única forma de não sofrerem é não criarem esse impacte. Como o mercado não funcionou – devido à maior falha de mercado: ausência de pensamento sistémico – agora temos uma presença intensa de regulação para limitar a criação de impactes ambientais e sociais negativos.

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NOAA

Vivemos na chamada “dupla materialidade”: as atividades humanas através das empresas impactam o ambiente, biliões de empresas a impactarem o ambiente alteram o seu equilíbrio, e esse desequilíbrio impacta, por sua vez, as empresas e os humanos. Por isso, a única forma de evitar o desequilíbrio é fazer com que os humanos e as empresas diminuam os seus impactes ambientais.

Como é que isso vai acontecer? Através da lei.

Defensora que sou da economia de mercado, do empreendedorismo e da propriedade privada, não tenho dúvida de que o Estado é fundamental quando as falhas de mercado continuam a existir. Assim, e como dizem os economistas, é necessário existirem os estímulos adequados para que o agente económico – nós, os cidadãos, as pessoas – possam ser levadas a sentir um incentivo a não impactar negativamente o ambiente. Enfim... Se fazemos o bem apenas com incentivos, questiono então o papel da educação, da religião e de tudo mais... Mas isso é para outro artigo.

Seguindo o que os economistas defendem, as empresas, o Estado e o sistema financeiro estão hoje cheios de estímulos, leia-se cheios de regulação, que, não os obrigando a fazer nada, os estimulam a fazer muito. Na realidade apenas o Estado é de facto obrigado a não danificar o ambiente. Os restantes têm apenas de reportar o quão alinhados estão, ou não, com os objetivos ambientais europeus. Se não estiverem poderão então ter acesso a capital mais caro: os bancos poderão de ter requisitos de capital mais elevados se os projetos a que emprestarem dinheiro tiverem impactes ambientais significativos; as empresas com mais impactes ambientais poderão ter taxas de juro mais elevadas em empréstimos, poderão ter menos acesso a capital público... Os fundos de investimento terão de recolher, trimestralmente, informação ambiental e social das empresas que investem e terão de autodeclarar o nível de alinhamento de cada fundo com critérios ambientais, sociais e de governação. Não havendo ainda nenhuma regulação que identifique os critérios mínimos ESG que um fundo deve ter, é preciso que o setor capte o espírito do regulador e consiga antecipar a regulação ou mesmo evitá-la...

Hoje é o Dia da Terra. É ela que nos abriga e que nos alimenta, espiritualmente e fisicamente. Cerca de 50% do PIB mundial provém da natureza e dos seus serviços. Com o desequilíbrio da terra corremos o risco de o PIB diminuir - e de isso nos impactar. Mas pensamos que é tão longe... E a nossa mente esquece-se tão rapidamente... É estranho ser o dinheiro verde que poderá reequilibrar o planeta. Mas que seja. E é muito bem-vindo.

A autora escreve segundo novo acordo ortográfico

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