Produção de hidrogénio verde e amónia em Sines arranca no início de 2024

Primeira unidade de produção de hidrogénio verde já foi apresentada em Sines. António Costa elogia investimento de mil milhões e aproveita para dizer que Portugal e Espanha já têm capacidade para suprir 30% das necessidades de gás da Europa.

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António Costa esteve esta sexta-feira em Sines. LUSA/TIAGO CANHOTO

O investimento de mil milhões de euros do consórcio internacional MadoquaPower2X para a construção de uma unidade de produção de hidrogénio verde e amónia, em Sines, foi apresentado esta manhã numa cerimónia com a presença do primeiro-ministro António Costa e de outros membros do governo.

O projecto, liderado pela empresa portuguesa Madoqua Renewables em parceria com a holandesa Power2X e a gestora de fundos dinamarquesa Copenhagem Infrastructure Partners, prevê o início da produção para Fevereiro de 2024.

A unidade terá capacidade para gerar 500 megawats de energia limpa, produzida com base em luz solar e água, e 500 mil toneladas de amónia verde, uma substância substituta de vários produtos de grande procura, como os fertilizantes.

Numa primeira fase, a fabrica de Sines vai produzir “50 mil toneladas de hidrogénio verde, que pode ser usado na indústria local, e 500 mil toneladas de amónia verde, que pode ser exportado através do porto de Sines”, detalham os promotores

Os promotores dizem que serão criados 200 empregos directos e evitadas 600 mil toneladas de emissões de carbono por ano. O primeiro projecto de escala industrial neste sector no país, vai “contribuir com 10 a 15% dos objectivos totais de investimento em hidrogénio de Portugal”.

O primeiro-ministro elogiou o investimento, que considera “urgente” e aproveitou para insistir na necessidade de um pipeline entre a Península Ibérica e o centro da Europa.

“Esse pipeline pode ser hoje para o gás natural, pode ser amanhã para o hidrogénio verde, e até para combinação dos diferentes gases. É uma infra-estrutura da maior importância. Portugal e Espanha em conjunto têm capacidade já instalada para suprir 30% das necessidades energéticas da Europa em gás natural. Só não podemos disponibilizar essa capacidade porque não há interconexão que permita transportar esse gás natural”, disse António Costa.

O chefe de Governo defendeu que a União Europeia deve aproveitar a lição que a invasão da Ucrânia pela Rússia deu a toda a Europa.

“Creio que o dia 24 de Fevereiro mudou o mundo e mudou sobretudo o cepticismo e a falta de visão. Hoje, ninguém pode ter dúvidas de que é mesmo prioritário investir na transição energética e que é prioritário investir na produção própria de energia na Europa”, afirmou o primeiro-ministro.

“É fundamental diversificarmos as rotas de energia da Europa”, acrescentou ainda António Costa, explicando que através de Portugal pode entrar no continente europeu gás proveniente de diversos pontos da rota atlântica, designadamente dos Estados Unidos, Nigéria ou Qatar.

António Costa considerou, por isso, histórica a decisão da Comissão Europeia de assumir como “opção estratégica” o aumento das interconexões energéticas entre a Península Ibérica e o resto do mercado europeu.

“Foi um passo histórico o facto de a Comissão Europeia, na recente comunicação que fez sobre as circunstâncias desta guerra da Rússia contra a Ucrânia, ter assumido como sendo uma opção estratégica da Europa o aumento das interconexões entre a Península Ibérica e o resto do mercado europeu”, defendeu o líder do governo.

O ministro do Ambiente e da Acção Climática também classificou a aposta estratégica na energia como “crucial” para a Europa, como forma de evitar o “garrote”, as “chantagens inaceitáveis e a “ameaça à segurança” que a dependência do gás russo representa.

“A invasão da Ucrânia mostrou a fragilidade da Europa em relação ao sector energético, a dependência do gás russo é um garrote à nossa actividade económica que é aproveitada, inclusivamente, para chantagens inaceitáveis de um regime ditatorial às democracias europeias, é uma ameaça à segurança da Europa”, disse Duarte Cordeiro. A Europa depende em 40% das suas necessidades do fornecimento de gás proveniente da Rússia.

Duarte Cordeiro recordou que Portugal tem de reduzir as emissões de carbono em 85% até 2050 para cumprir as metas que assinou e que, para isso, tem de acelerar a produção de energia limpa porque, de momento, ainda “não estamos numa trajectória de cumprimento” dos acordos para a redução dos gases com efeito de estufa.

A ideia transmitida por todos os envolvidos neste primeiro projecto é que, esta unidade, juntamente com outros investimentos, vão posicionar Sines no mercado global de hidrogénio verde.

O presidente da Câmara de Sines aproveitou a presença do Governo para agradecer a António Costa o contributo para o desenvolvimento desta zona do litoral alentejano. Nuno Mascarenhas recordou que estão a ser criados dois pólos, de energia verde e digital, e a ser construída a ligação ferroviária a Espanha, tendo ainda sido desbloqueada a conclusão da A26.

“Quero mostrar a nossa satisfação por estas três questões terem sido conseguidas”, disse o autarca socialista.

A primeira unidade de produção de hidrogénio verde vai ser construída na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS), um parque empresarial gerido pela Aicep Global Parques.

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