França a votos: pela extrema-direita ou pela Europa

Precisamos da França do nosso lado. Uma França que foi uma e outra vez um farol de democracia e da fraternidade para a Europa e o mundo.

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Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

A Europa encontra-se num momento de viragem histórico. Numa tentativa de reescrever a História, Putin lançou um ataque brutal contra a Ucrânia e o seu povo. As imagens de Mariupol, Bucha ou Kramatorsk evocam memórias dos tempos mais obscuros da Europa.

Mas a agressão de Putin vai ainda mais longe. Quebrou a regra mais fundamental da nossa ordem de paz europeia: não mudar fronteiras pelo uso da força, como fizemos tantas vezes ao longo do nosso passado sangrento. A guerra de Putin visa os valores que a França e os nossos países defendem: democracia, soberania, liberdade e Estado de direito.

No entanto, os populistas e a extrema-direita em todos os nossos países têm vindo a identificar Putin como uma referência ideológica e política, repetindo as suas alegações chauvinistas. Fizeram eco dos seus ataques contra as minorias e a diversidade e do seu objetivo de uniformidade nacionalista. Não devemos esquecer isso, independentemente de quanto esses políticos tentem distanciar-se do agressor russo.

Por estes motivos, a segunda volta das eleições presidenciais francesas não pode ser business as usual para nós. A escolha que o povo francês enfrenta é crucial — para a França e para cada um de nós na Europa. É a escolha entre um candidato democrático, que acredita que a força da França cresce numa União Europeia poderosa e autónoma, e uma candidata de extrema-direita, que se coloca abertamente do lado daqueles que atacam a nossa liberdade e a nossa democracia — valores baseados nas ideias francesas do iluminismo.

A França tem estado no coração do projeto europeu. Foi a força motriz da reconciliação europeia após duas guerras mundiais desastrosas no século passado. E, nas crises dos últimos anos, a liderança francesa foi fundamental para promover uma maior solidariedade europeia, com a consciência de que uma Europa forte e unida não limita a soberania nacional. É, antes, a única forma de garantir que os nossos países podem prosperar e competir com potências autoritárias, como a Rússia.

Foi com a França que nos aliámos para uma maior solidariedade europeia quando a pandemia de Covid-19 atingiu o nosso continente. Como consequência disso, a União Europeia adotou o maior pacote de medidas de emergência da sua história. Os sistemas de proteção social foram estabilizados. Atualmente, a taxa de desemprego na área do euro é a mais baixa de sempre, apesar da pandemia. Em vez de se repetirem os erros do passado e de se reduzirem as despesas em plena crise, estamos a investir milhares de milhões em novas tecnologias, na justiça social, numa defesa europeia mais forte e num futuro mais sustentável e neutro em carbono para todos nós.

Alguns afirmam que tudo isto pode ser mais bem concretizado atuando isoladamente. “Retomar o controlo” era a promessa dos defensores do “Brexit”. Em vez disso, causaram perturbações nas cadeias de transporte e de abastecimento, uma queda no comércio externo e taxas de inflação geralmente mais elevadas do que a área do euro. Aqueles que, supostamente, sairiam beneficiados — trabalhadores, jovens e pessoas mais vulneráveis acabaram por sofrer as consequências.

A verdade é esta: só em conjunto temos o poder de manter a nossa prosperidade e bem-estar. Só juntos poderemos moldar a globalização de forma humana. E só juntos defenderemos a paz e a ordem internacional que estão a ser atacadas.

É por tudo isto que precisamos da França do nosso lado. Uma França que foi uma e outra vez um farol de democracia e da fraternidade para a Europa e o mundo. A nação que acolheu os nossos exilados que fugiam das ditaduras de Franco e Salazar. Uma França que defende a justiça e contra líderes não democráticos como Putin. Uma França que representa os nossos valores comuns, na Europa em que nos reconhecemos, que é livre e aberta ao mundo, soberana e europeia, ao mesmo tempo que é forte e solidária.

Essa França vai a votos no dia 24 de abril. Esperamos que os cidadãos da República Francesa a escolham.

António Costa, Pedro Sánchez e Olaf Scholz são os líderes socialistas e sociais-democratas de Portugal, Espanha e Alemanha.

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