Alemanha planeia “entrega circular” de armas à Ucrânia

Berlim irá enviar equipamento e armamento pesado para substituir o que países aliados entreguem, pelo seu lado, à Ucrânia. A Eslovénia deverá enviar para a Ucrânia - e depois receber da Alemanha - cerca de 40 carros de combate.

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O chanceler alemão, Olaf Scholz, está a ser criticado pela sua abordagem à entrega de armas à Ucrânia CLEMENS BILAN/EPA

A Alemanha está no meio de um debate febril sobre o que o Governo está a fazer para entregar armas à Ucrânia – com o chanceler a ser alvo de críticas dos partidos da sua coligação e de parte do seu partido. Uma notícia do diário de grande circulação Bild dizendo que o chanceler, Olaf Scholz, recebeu da indústria alemã de armas uma lista do que poderia ser entregues à Ucrânia e retirou dela o armamento pesado como tanques e obuses lançou mais achas para a fogueira.

De seguida, no entanto, fontes governamentais citadas pela agência DPA diziam que o país está a preparar-se para enviar este armamento pesado a aliados da NATO para substituir material que estes enviem directamente à Ucrânia. A Alemanha evita assim o envio directo de armas pesadas à Ucrânia.

A ministra da Defesa, Christine Lambrecht, confirmou que a Alemanha está a preparar esta “entrega circular”, mas disse que o equipamento a entregar não poderia vir do que está actualmente em uso pelas Forças Armadas da Alemanha.

“Trata-se de tanques, de algum material que alguns países têm possibilidade de entregar”, disse Lambrecht à estação de televisão RTL, especificando que se trata de países que têm material do tempo da União Soviética que é o que é usado pelas Forças Armadas da Ucrânia, permitindo que seja utilizado já. A Alemanha encarregar-se-á de entregar a estes países o equipamento para substituir o que for dado. “Estamos em conversações e está tudo a andar muito depressa”, declarou, dizendo que se espera uma troca “nos próximos dias”. Os peritos militares, adiantou, “dizem que as próximas duas semanas serão decisivas para o que vai acontecer na guerra”.

Segundo a DPA, a Eslovénia prepara-se para entregar um grande número de tanques de T-72 à Ucrânia. Em contrapartida, receberá da Alemanha carros de combate mais modernos. A Reuters diz que se trata de cerca de 40 veículos no total.

A ministra confirmou ainda que a Alemanha iria treinar forças armadas ucranianas na utilização de um sistema de artilharia para tanques – os sistemas em si vão ser entregues pelos Países Baixos.

Além das críticas internas, o Governo alemão tem sido alvo de críticas externas: na Polónia, o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki disse que na nova fase da guerra agora focada na região do Donbass, “é preciso dar [à Ucrânia] munições e também equipamento pesado”, e “a posição ambígua da Alemanha não ajuda”, declarou.

A questão perseguiu também a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, no seu segundo dia de visita aos países Bálticos. “Não há tabus para nós em relação a veículos blindados ou outro tipo de armas de que a Ucrânia precise”, disse numa conferência de imprensa com a sua homóloga da Estónia.

Não era claro se esta ideia de entrega circular teria já acontecido antes com aviões. Chegou a ser anunciado, no início de Março, que iriam ser entregues aviões à Ucrânia, o que foi depois desmentido – na altura, tratava-se de um acordo entre os Estados Unidos e a Polónia em que Varsóvia entregaria os seus aviões soviéticos MiG (embora não de modo directo) e receberia aviões mais modernos dos EUA. “Apesar de alguma ambiguidade diplomática, esta deverá pretender proteger os países [dadores] de retaliação russa, parece que todos ou alguns dos três potenciais dadores [Polónia, Bulgária e Eslováquia] entregaram alguns dos seus stocks de peças de MiG”, escrevia a revista norte-americana Forbes.

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