Queda da Netflix tem efeito dominó na bolsa e na concorrência, mas HBO Max aumentou assinantes

Primeira perda de subscrições da líder do mercado do streaming em mais de dez anos causou desvalorização de 35% da empresa na Bolsa de Nova Iorque. HBO e HBO Max juntaram três milhões de assinantes em todo o mundo.

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A Netflix está a passar uma semana difícil Reuters/DADO RUVIC

Dois dias depois do anúncio de que, pela primeira vez em dez anos, diminiu o número de subscritores da Netflix, uma das suas mais jovens concorrentes vem informar que somou mais três milhões de assinantes – a HBO e a HBO Max têm agora 76,8 milhões de clientes em todo o mundo, numa altura em que a empresa concorre para se afirmar como uma das três grandes do streaming. Ainda assim, os bons resultados vêem-se abafados pela desvalorização deste importante segmento do audiovisual na Bolsa de Nova Iorque, com a desilusão dos mercados perante a Netflix a contaminar a concorrência.

Esgotado o efeito dos dois anos de pandemia em que a Netflix se valorizou ao ponto de ultrapassar o valor das empresas petrolíferas, a maré mudou. Tal como muitos analistas previam, a bolha do streaming, pressionada por uma concorrência cada vez mais numerosa, mais feroz e mais global, parece estar cada vez mais tensa Se há um ano a empresa de Ted Sarandos garantia que a contracção do seu crescimento não era um problema, de repente transformou-se num problema de milhares de milhões. Em Novembro a Netflix valia 283 mil milhões de euros e hoje vale 91,8 mil milhões, como assinala o jornalista da Bloomberg Lucas Shaw.

O mercado do streaming, marcado por forte crescimento e acompanhado pela mudança dos hábitos de consumo audiovisual, tem nos bastidores um mar de dívidas agitado pela necessidade de investimento constante em tecnologia e programação. Na sequência da perda de 200 mil subscritores, as acções da Netflix caíram 35% e houve um efeito dominó de desconfiança no sector – os títulos da Disney, da Warner Discovery e da Paramount, por exemplo, desvalorizaram entre 5 e 8% até ao fecho dos mercados na quarta-feira.

Numa altura em que a concorrência está cheia de séries como Billions, Super Pumped ou The Dropout, que mostram o mundo dos investidores de hedge fund e a importância dos fundos fiduciários para as novas empresas de tecnologia – como a Netflix -, o bem real investidor activista Bill Ackman anunciou na quarta-feira que vendeu todas as suas acções da Netflix. Tinha-as comprado a 1,1 mil milhões de dólares e largou-as como lastro no “day after” das más notícias, perdendo uma quantia que não divulgou mas que se estima que tenha rondado os 400 milhões.

A Netflix admite perder mais dois milhões de assinantes até fins de Junho, o que parece ter provado ao mercado que a fé no seu potencial de crescimento quase infinito era exagerada. “Estamos super focados em voltar às boas graças dos nossos investidores”, disse o co-presidente da empresa, Reed Hastings, na chamada com os investidores que se seguiu ao seu anúncio de resultados. A plataforma apresentou como soluções o combate à partilha de passwords e a introdução de publicidade para criar subscrições low cost.

Entretanto, a concorrência continua a crescer, num planeta em que a Netflix ainda é líder – de longe, com 221,64 milhões de subscritores –, mas em que passou de pioneira e disruptora do mercado ao posto de incumbente. No processo, os seus preços foram também subindo. A HBO e a HBO Max, plataforma nascida em plena pandemia e que há escassas semanas se afirmou com esse nome em Portugal, é uma das suas concorrentes, mas ainda está longe do pódio, ocupado pela Amazon Prime Video e pela Disney+, as plataformas de maior dimensão. Tal como a Apple TV+, estas últimas não aderem integralmente ao modelo único de estreia da Netflix: doseiam as suas estreias com novos episódios semanais ao invés do despejar de toda uma temporada de uma só vez.

A HBO Max continua a crescer e está a tentar trabalhar com os mesmos trunfos, na óptica dos espectadores, que a Disney+ já tem e que a Amazon e a Netflix estão a criar mais devagar – franchises, séries e filmes com existência longa e multifacetada. A Disney tem no ar mais uma série Marvel e aguarda a estreia de mais uma série Star Wars; a Amazon estreia em Setembro a série de TV mais cara de sempre, O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, duas semanas depois de a HBO debutar a prequela de A Guerra dos Tronos, House of the Dragon.

Na conversa com os investidores da Netflix, a programação ocupou porém um espaço diminuto. Falou-sedo filme Knives Out 2, do final da série Ozark e até de uma versão sul-coreana de La Casa de Papel a programação “local”, em língua não-inglesa, é uma aposta forte da Netflix, que tem no seu catálogo a única série original integralmente portuguesa para uma plataforma de streaming estrangeira; as restantes plataformas estão a tentar acompanhá-la.

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