Morreu o actor e produtor francês Jacques Perrin

Trabalhou com Claude Chabrol, Valerio Zurlini, Costa-Gavras e Giuseppe Tornatore (Cinema Paraíso), entre outros. Tinha 80 anos e morreu na mesma cidade, Paris, que o viu nascer em Julho de 1941.

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Com Claudia Cardinale em "A Rapariga da Mala", de Valerio Zurlini wikicommons

Foi um dos rostos mais populares do cinema europeu, sobretudo do cinema vindo dos dois países em que mais trabalhou, França e Itália​, nos anos 1960 e 1970. A sua família anunciou esta quinta-feira que o actor e produtor de cinema independente Jacques Perrin morreu aos 80 anos.

No final dos anos 50, quase adolescente, já tinha alguns papéis de cinema (e algum teatro) no currículo quando Valerio Zurlini o escolheu para protagonista masculino de A Rapariga da Mala, contracenando com Claudia Cardinale. Esse filme – um dos mais belos e mais tristes alguma vez feitos – projectou Perrin e projectou a sua imagem ao longo que quase toda a década dos seus vinte anos (a década de 1960): ele foi o retrato perfeito de uma juventude sonhadora e melancólica, a passear uma orfandade que nada sacudia, um brilho triste no olhar mesmo nos momentos de alegria.

Voltou a Zurlini para outro tristíssimo filme, Dois Irmãos, Dois Destinos, onde fazia o papel lancinante de irmão mais novo, e doente, de Marcello Mastroianni, e ainda voltou a ser actor de Zurlini (acumulando já então com a função de produtor) no derradeiro filme do cineasta italiano, O Deserto dos Tártaros, em 1976.

Trabalhou com Claude Chabrol (A Linha de Demarcação), contracenou com Bruno Crémer num singular e injustamente esquecido filme de guerra francês dos anos 60 (La 317éme Section, de Pierre Schoendorffer, a meio caminho entre a guerra de Samuel Fuller e a guerra de Coppola no Apocalypse Now!), encontrou Jacques Demy para outro papel determinante: Maxence, o marinheiro jovial, absolutamente crente em que as voltas do destino conduzem sempre ao amor, de As Donzelas de Rochefort. Voltou a Demy (A Princesa Com Pele de Burro, 1970), mas Maxence foi uma personagem tão marcante que foi com esse nome que Perrin baptizou um filho nascido nos anos 1990.

Outro cruzamento decisivo de Perrin nos anos 1960 foi com Costa-Gavras, o cineasta greco-francês filho de gregos exilados. Esteve em vários filmes dele e produziu-lhe vários filmes (os seus primeiros como produtor) no princípio dos anos 1970, entre eles o celebérrimo e polémico Z, que no clima político da altura foi uma produção arriscada e corajosa.

Como actor, Perrin foi-se tornando mais raro a partir dos anos 80, mas nunca lhe faltaram realizadores: Claude Goretta, Margarethe von Trotta, Paul Vecchiali, Xavier Beauvois. Como produtor, obteve um grande sucesso nos anos 1990, com o documentário Microcosmos, a trazer a vida de pequenos insectos ao écran grande. E, como actor, depois de ter marcado a geração de 1960, marcou todos aqueles que, no final dos anos 1980, se deixaram comover com o Cinema Paraíso de Giuseppe Tornatore. Era ele quem interpretava, em adulto, o papel do pequeno aprendiz de projeccionista que protagonizava o filme, era ele quem se comovia, sozinho na sala, com o rol de “beijos roubados” que vinham de outro tempo, de um tempo em que o cinema europeu sabia comover plateias inteiras. Ele também era um símbolo desse tempo. Um dos mais discretos, um dos mais magoados, um dos mais belos.

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