Os vidreiros estão em vias de extinção, mas há um centro de formação que os quer salvar

Não há jovens interessados em ser vidreiros, o que leva os trabalhadores da indústria a temer pelo seu futuro. Contudo, no pólo da Marinha Grande, o Centro de Formação para a Indústria de Cerâmica está a promover um curso de três meses, com início a 9 de Maio, para acolher interessados que queiram aprender a arte.

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Rui Gaudencio

O pólo da Marinha Grande do Centro de Formação para a Indústria de Cerâmica (Cencal) procura alunos para o curso de vidreiro, para evitar a extinção desta profissão. “Todos os anos tentamos, mas é muito difícil recrutar pessoas para quererem aprender a profissão de vidreiro”, afirmou à agência Lusa Joana Silva, coordenadora do pólo, “o único centro do país a formar vidreiros”.

O curso, previsto iniciar em 9 de Maio, tem três meses de duração. Em entrevista à agência Lusa, a propósito do Ano Internacional do Vidro, que se assinala em 2022, Joana Silva, de 40 anos, referiu que é “uma oportunidade, uma vez que é uma profissão que está a desaparecer e que cada vez mais tem uma procura maior da parte das empresas” - ou para quem queira trabalhar por conta própria. Ressalva que se o formando tiver um “bom desempenho” e se entender que “quer evoluir nesta vertente, garantidamente, logo à saída do curso, entra numa empresa, porque, realmente, é uma profissão que está a desaparecer e que tende a ser valorizada”, assinalou.

Sobre a razão pela qual esta profissão não atrai interessados, a responsável do pólo da Marinha Grande do Cencal argumentou com o facto de ser “um trabalho duro”, que “em termos físicos, é muito exigente”.“Quando colhemos o vidro directamente do forno, este está a 1.150 graus”, exemplificou.

Joana Silva, designer de cerâmica e vidro - que cresceu numa fábrica de vidro, a Ivima, onde trabalhava a mãe -, teme que esta arte desapareça. “Com competência (...) para fazer peças de grande porte e com alguma dificuldade técnica, o vidreiro mais novo é mais velho do que eu e não vejo ninguém neste momento a querer continuar”, observou, explicando que este trabalho “leva muitos anos a aprender”.

Joana Silva acrescentou que “hoje em dia, quem está mesmo a fazer este trabalho é porque gosta, não é porque é compensado por isso, nem pouco mais ou menos”. Sobre o trabalho do Cencal, destacou que existe “muito sucesso em termos da aprendizagem do vidro soprado”, desde artistas plásticos a designers, assinalando a este propósito as parcerias do centro de formação com escolas do ensino superior. “Mas, depois, aprender a profissão propriamente de vidreiro não é algo que as pessoas ambicionem”, reconheceu.

Adiantando que o Cencal quer continuar a ser uma “fábrica onde saem vidreiros prontos para a indústria”, Joana Silva adiantou que o centro faz também formação para quem já é vidreiro, possibilitando a aprendizagem de “novas técnicas e outras formas de trabalhar o vidro”.“Essa também é nossa missão. Ou seja, não é só formar novos vidreiros, também é dar formação contínua aos vidreiros já existentes. Espero que tenhamos a oportunidade e que estejamos cá durante ainda muitos anos para continuar este trabalho”, declarou.

Sobre o futuro, Joana Silva admitiu, pelo estado actual da arte, que “as empresas que ainda produzem algum vidro manual vão desaparecer, ou seja, a parte do vidro tradicional vai ser mesmo um nicho de mercado”. Acreditando que “vai ser um ponto muito pequenino nas empresas”, a coordenadora do pólo disse acreditar que vai ficar “sempre um atelier ou outro, para produzir o vidro manual, a parte mais tradicional”.

“A nossa História é industrial e nisso nós estamos super bem representados do meu ponto de vista, tanto a nível da cristalaria, como a nível do vidro da embalagem. (...) A questão é mesmo se as empresas actuais não vêem ou não visam só a parte lucrativa e que também façam um esforço para manter. Nem que seja ali uma pequenina secção da parte do vidro tradicional, que é isso que também é a nossa História”, acrescentou.

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