Novo episódio de violência no Monte do Templo em Jerusalém

Confrontos renovados com a polícia israelita e fiéis muçulmanos quando se juntam calendários religiosos muçulmano, judaico e cristão.

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Jovens muçulmanos atiraram fogos de artifício contra agentes da polícia israelita nas ruas da Cidade Velha AMMAR AWAD/Reuters

A polícia israelita voltou a entrar no Pátio das Mesquitas e a empurrar os fiéis muçulmanos para a zona da mesquita de Al-Aqsa, em novos incidentes no local quando estavam presentes extremistas judaicos – como a mulher do deputado de extrema-direita Itamar Ben-Gvir.

A tensão acontece porque os judeus podem entrar no complexo do Pátio das Mesquitas durante horas reservadas a não muçulmanos, mas não podem levar qualquer símbolo religioso. Um movimento de extremistas vem, nos últimos anos, a prometer reaver o local para os judeus, e a tentar levar a cabo actos religiosos cada vez mais abertos.

Este ano, com coincidência do calendário com a Páscoa judaica, houve rumores de que estes activistas se preparariam para matar um cabrito no local – o que terá levado à violência de sexta-feira, quando a polícia israelita deteve mais de 400 pessoas, acusando-as de atirar pedras.

Imagens partilhadas por um site palestiniano de Jerusalém mostravam a polícia empurrar os fiéis para dentro da mesquita e a fechar as saídas.

A polícia disse que havia “centenas de jovens a perturbar a paz na zona do Monte do Templo e dentro da mesquita”, e culpou “informação falsa nas redes sociais” que está a ser espalhada “com o objectivo de incitar e agitar”, cita o jornal Jerusalem Post.

Antes, houve também violência nas ruas da Cidade Velha, com jovens a atirar fogos-de-artifício contra polícias israelitas. E um autocarro israelita foi atingido por pedras fora das muralhas da Cidade Velha.

Nos últimos dias, a polícia israelita e os serviços de informação interna (Shin Beth) detiveram vários membros do grupo “regresso ao Monte do Templo”, o nome que os judeus dão ao complexo, e ainda pessoas que se encaminhavam para a Cidade Velha de Jerusalém levando cabritos.

Segundo o diário israelita Haaretz, foi esta ameaça que levou centenas de jovens árabes israelitas e palestinianos até Jerusalém para dormir no local antes do que dita a tradição – apenas costuma ser feito nos últimos dez dias do Ramadão.

Na sexta-feira, os confrontos entre a polícia e os jovens duraram horas e as imagens da polícia a deter pessoas dentro da mesquita – assim como da violência, como uma mulher empurrada por um agente a correr, uma fotógrafa agredida por um polícia com um bastão, e idosos a serem empurrados – poderão inspirar ataques de palestinianos em Israel, escrevia o jornalista Nir Hasson no Haaretz. Ficaram feridas 150 pessoas.

No entanto, a decisão das autoridades libertarem quase todos os 470 detidos (30 foram mantidos na prisão) mostra que os serviços de segurança encararam o que aconteceu como um incidente isolado. Também no Haaretz, o jornalista Jack Khoury argumentava que o que está a acontecer, apesar da violência, provava, para já, que nenhum dos lados deseja uma escalada que possa terminar coo o ano passado, em que violência em Jerusalém acabou por levar a motins em larga escala em Israel e a ataques israelitas sobre a Faixa de Gaza, e rockets vindos do território contra Israel.

A preocupação dos serviços de segurança de Israel era sobretudo com ataques mais espontâneos levados a cabo por uma pessoa depois de ter visto as imagens, explica Hasson.

Ainda na sexta-feira, uma adolescente de 15 anos de Haifa saiu de casa e esfaqueou um homem judeu, deixando-o ferido. Nas últimas semanas, tem havido uma série de ataques deste género, e o exército israelita levou a cabo uma série de operações militares, focadas sobretudo em Jenin, de resposta a alguns dos ataques. Não era claro se o que aconteceu este domingo mudará esta avaliação.

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