Stubb desvaloriza ameaça russa e dá como certa adesão da Finlândia à NATO: “Foi decidida a 24 de Fevereiro”

Antigo primeiro-ministro finlandês diz que a Rússia já tem armas nucleares no Báltico, pelo que as ameaças de Dmitri Medvedev são “propaganda”. E considera que o Exército russo não tem capacidade para combater em duas frentes ao mesmo tempo.

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Alexander Stubb é um apoiante de longa data da adesão da Finlândia à NATO Reuters/LEHTIKUVA

O antigo primeiro-ministro finlandês Alexander Stubb, um apoiante de longa data da adesão da Finlândia à NATO, desvaloriza as ameaças russas contra a entrada do país na Aliança Atlântica e considera que o processo é “imparável” e vai ficar concluído até ao fim do ano.

Stubb, de 54 anos, é um fervoroso defensor da entrada da Finlândia na NATO desde os tempos em que foi deputado do Parlamento Europeu, em meados da década de 2000, e mais tarde como ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro. Mas a sua posição foi quase sempre impopular na Finlândia — em 2014, logo após a invasão da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, e poucos meses antes de Stubb ter sido indigitado como chefe do Governo finlandês, o apoio à entrada da Finlândia na NATO não ia além dos 22%.

O que aconteceu nas últimas semanas, a partir do momento em que o Exército russo invadiu a Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro, foi algo que Stubb e outros apoiantes da adesão da Finlândia à NATO não esperariam ver nos próximos anos: de 24% nas sondagens em Dezembro de 2021, a entrada do país na Aliança Atlântica passou a recolher uns impressionantes 68% de apoio.

À boleia desta reviravolta histórica, o ex-primeiro-ministro finlandês deu uma entrevista ao canal norte-americano CNN, na quinta-feira, e disse que a questão já não é se o seu país vai, ou não, aderir à NATO. “Esse comboio já saiu da estação”, disse Stubb.

“Estou convencido de que o acordo está selado. Vamos apresentar a nossa candidatura até ao final de Maio e seremos membros da NATO até ao final do ano”, afirmou Stubb, para quem as recentes ameaças do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, e da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, estão a ser levadas demasiadamente a sério nos media europeus.

Em Fevereiro, Zakharova disse que uma adesão da Finlândia (e da Suécia) à NATO terá “sérias repercussões políticas e militares”; e, na quinta-feira, Medvedev disse que a entrada dos dois países na Aliança Atlântica ditaria o fim de uma região do Báltico livre de armamento nuclearuma ameaça recorrente na Rússia de que seriam instaladas armas nucleares, de forma permanente, no enclave russo de Kaliningrado e em São Petersburgo, no Golfo da Finlândia.

“Medo racional”

Esta sexta-feira, Stubb usou a rede social Twitter para desvalorizar as ameaças russas, num comentário a uma notícia do jornal Financial Times: “Quero recordar, com gentileza, que não há nada de novo aqui. As armas nucleares já lá estão. Vamos parar de espalhar a propaganda de Moscovo.”

Na CNN, Stubb disse também que a hipótese de um ataque convencional por parte da Rússia não deve ser vista como uma ameaça realista, e que não chega para demover a Finlândia de aderir à NATO.

“Na guerra na Ucrânia, o Exército russo revelou ser bastante fraco. Não me parece que eles consigam combater em duas frentes ao mesmo tempo, na Ucrânia e no Norte da Europa”, disse Stubb, recordando que a Finlândia tem um Exército bem equipado e com quase um milhão de reservistas.

Sobre a mudança na opinião pública finlandesa, Stubb disse que se baseia num “medo racional”: “A nossa adesão à NATO foi decidida no dia 24 de Fevereiro, quando a Rússia e Putin atacaram a Ucrânia.”

Mesmo que haja um acordo de paz nos próximos dias ou semanas, o ex-primeiro-ministro finlandês acredita que a opinião pública do país — e a vontade do Governo em pedir a adesão à NATO — não voltará atrás.

“Estamos numa Europa dividida. De um lado, temos uma Rússia agressiva, totalitária, imperialista e revisionista; e do outro lado temos 35 países que acreditam nos valores da liberdade e que querem cooperar e cumprir a lei internacional”, disse Stubb. “Temos de reforçar a nossa segurança, independentemente de haver paz ou não.”

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