Zoo de Lourosa ensina a fazer abrigos para preservar vida selvagem perto de casa

A 24 e 25 de Abril, o zoo terá em exposição nove abrigos, entre os quais os adequados para morcegos, estorninhos, corujas-das-torres e esquilos. A ideia é também ensinar a população a replicá-los para ajudar a proteger a vida selvagem.

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EPA/Jeffrey Arguedas

O Zoo de Lourosa, em Santa Maria da Feira, está a construir abrigos para diversas espécies de animais autóctones e vai ensinar a população a replicá-los para que possa ajudar a proteger vida selvagem identificada “perto de casa”.

A iniciativa daquele que é o único parque ornitológico do país resulta de uma parceria com a Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA), no âmbito de uma campanha com que a comunidade zoológica internacional tem vindo a adoptar acções “mais práticas e imediatas” para travar, “na natureza mais próxima”, o declínio de algumas espécies.

A explicação é de Salomé Tavares, que, como directora do zoo do distrito de Aveiro, declara à Lusa: “Manter a biodiversidade do meio onde vivemos passa cada vez mais por iniciativas concretas, por um lado, e pelo envolvimento da comunidade não científica, por outro, porque falar de intenções não chega. Neste caso específico, vamos mostrar como os abrigos podem ajudar na preservação de espécies, ser feitos por qualquer pessoa com o mínimo de habilidade manual e instalar-se praticamente em qualquer lado.”

Nos dias 24 e 25 de Abril, o zoo terá assim em exposição nove abrigos, entre os quais os adequados para morcegos, estorninhos, corujas-das-torres e esquilos. O primeiro desses resguardos visa proteger espécies como o morcego-pigmeu e o morcego-de-bigodes quando procuram um local para se alimentar. A directora do zoo realça que, apesar da má reputação destes animais, eles “não provocam qualquer dano nas culturas agrícolas e ajudam até no combate a pragas, reduzindo a necessidade de insecticidas”.

Já no que se refere aos estorninhos, a casa-ninho favorece a preservação da espécie porque substitui as cavidades naturais onde essas aves habitualmente nidificam e que, por serem características de árvores com algum diâmetro de tronco, são cada vez mais escassas.

Situação distinta é a das corujas-das-torres, que, por preferirem construir ninho em estruturas feitas por seres humanos, como celeiros, sótãos ou chaminés, se vêm deparando ao longo dos anos com menos edificações que cumpram esses critérios, por efeito da reabilitação imobiliária e urbana. Disponibilizar-lhes um abrigo representa, portanto, um incentivo à sua reprodução e ao aumento demográfico “de predadores de topo que auxiliam os agricultores a controlar insectos e anelídeos que, em excesso, ameaçam as plantações”.

Os abrigos para esquilos, por sua vez, têm objectivos um pouco distintos: “Oferecem-lhes locais mais seguros para nidificar do que aqueles que habitualmente utilizam e que podem ficar encharcados com chuvas intensas ou colapsar com ventos fortes. E como os esquilos colhem sementes e frutos secos que enterram para consumo futuro, também ajudam a que muito desse alimento acabe por germinar e dê origem a novas árvores.”

Salomé Tavares afirma que essa selecção de abrigos foi pensada tendo em conta que a vida selvagem enfrenta actualmente, um pouco por todo o mundo, “uma crise de alojamento” motivada pela intervenção humana que vem transformando áreas verdes em explorações agrícolas, parques de extracção de minério ou empreendimentos imobiliários.

Essas e outras questões serão abordadas, aliás, nas oficinas que, obrigando a inscrição prévia, vão ensinar os visitantes do zoo a construir os referidos abrigos e a afixá-los com segurança e em posição adequada nos seus jardins ou em florestas próximas. “Nessas aulas as crianças também vão poder criar um dispensador de materiais — com folhas, ramos, fios e tecidos — para ajudarem as aves a construírem os seus ninhos, facilitando-lhes o trabalho de encontrar esses elementos na natureza”, adianta.

A directora do parque ornitológico garante, contudo, que “mesmo quem não tem talento para bricolagem” poderá associar-se à missão da EAZA, comprando no zoo ninhos e abrigos “que já estarão prontos a usar e que depois só têm que ser afixados no quintal, num pequeno-grande contributo para a biodiversidade do planeta”.

Para isso será até criada uma plataforma própria em que os cidadãos poderão registar a localização exacta dos seus abrigos, para uma melhor noção da abrangência da iniciativa

Quem preferir actividades mais passivas tem ainda hipótese de usufruir de outra novidade do zoo, desde que se inscreva antecipadamente: “Pode participar na visita inaugural do roteiro ‘Guardiãs das Aves’, que dá a conhecer as árvores com que o zoo replicar habitats de cinco continentes. É um património botânico e paisagístico muito valioso e está cheio de histórias e curiosidades interessantes.”

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