Somos Punks ou Não: a “história de superação e de amor à música” dos 5ª Punkada

Criada por utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, a banda 5ª Punkada apresenta agora toda a sua história num novo documentário da produtora Casota Collective. Para ver aqui, em primeira mão.

A viagem dos Punkada já dura há mais de um quarto de século e não tem indícios de parar. Nascida em 1993, na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), pela mão de Fausto Sousa, o seu primeiro membro (e único elemento original), esta banda inspirou um documentário da produtora audiovisual Casota Collective intitulado Somos Punks ou Não, o mesmo nome que o álbum de estreia do grupo. O filme de 20 minutos relata a história da banda, desde a sua fundação até ao concerto de apresentação, no dia 23 de Dezembro de 2021, no Teatro José Lúcio da Silva, e estreia-se aqui no P3.

Em 2020, a banda candidatou-se a apoios do Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) para poder começar um novo projecto musical, conta Paulo Jacob, musicoterapeuta e membro dos Punkada. Com a morte de alguns elementos da banda e o surgimento da pandemia, o “grupo precisava de um novo respirar, de um novo fôlego”, justifica ao P3. Encontraram então a editora Omnichord que ​forneceu uma “lufada de ar fresco”, ao apresentar um “pacote de serviços”, que proporcionava a gravação de um disco “com um produtor” e um “registo audiovisual de todo o processo de preparação e gravação”.

“A ideia de trabalhar com a 5ª​ Punkada [já era] muito antiga”, refere, por seu turno, o fundador da Omnichord, Hugo Ferreira. Contando com especialistas em música, vídeo, produção e noutras áreas, a editora decidiu “pegar naqueles sonhos" que todos tinham, mas nunca encontravam tempo para fazer — por exemplo, a gravação de um disco e a preparação de um concerto, processo que seria documentado. Porque é “extremamente importante o tipo de trabalho” dos 5ª Punkada, diz Hugo Ferreira, que nesta banda composta por músicos com paralisia cerebral encontra “um testemunho e uma inspiração”.

Para a gravação do disco, a editora convidou o produtor Rui Gaspar e músicos, como Surma e Victor Torpedo, “com outras experiências e outros universos”, diz Hugo. Segundo Paulo Jacob, “acabou por se gerar um sentimento de partilha e de fraternidade entre os próprios músicos” convidados e a banda, estando patente no documentário a “humanidade” de todo o projecto. Desta forma, o documentário conta “uma história de superação, de trabalho e de amor à música”, conclui o fundador da Omnichord. Porém, o filme “não vale nem pode valer só pelos 5ª Punkada”, visto que gera uma “discussão muito maior” sobre a “diferença entre inclusão social e participação”. “Se este documentário, de certa forma, servir para abrir esse debate e para o alimentar, estamos no caminho certo.”

Assim, como forma de “ultrapassar a inclusão para chegar à participação”, a Casota Collective opta por demonstrar que o processo de gravação do disco dos 5ª Punkada se trata de um “projecto artístico” e não de “musicoterapia” e que acontece “com a maior naturalidade, como acontece como qualquer outra banda”, afirma Hugo. Para além disso, dá “voz” a pessoas como Tina Branco, assistente na APCC, que acompanha a banda “desde o primeiro concerto”, demonstrando que o seu trabalho “invisível” deve ser "cada vez mais valorizado”.

O resultado final é “bastante positivo”, diz Paulo Jacob. Hugo Ferreira concorda: “Quem vir o documentário vai passar a olhar de forma diferente e de forma muito mais próxima, como sempre deveria ter olhado, para pessoas que não são menos nem mais, são diferentes."

Texto editado por Amanda Ribeiro