Johnny Depp vs. Amber Heard, cem milhões de motivos para ir a tribunal

Um caso de tribunal que será também um desfile de estrelas, ao vivo ou via digital, e que arranca esta segunda-feira em Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia.

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O casal num evento público, em 2014 MARIO ANZUONI/Reuters

Depois de ter perdido um processo de difamação no Reino Unido contra o tablóide The Sun, o actor move uma acção de 50 milhões directamente contra Amber Heard, nos EUA, que, por seu turno, contra-ataca com um processo de cem milhões. O caso será decidido por um júri.

Johnny Depp acusa Amber Heard de difamação e de não ter cumprido os termos do acordo do divórcio, que previam que o actor entregasse à estrela de Aquaman sete milhões de dólares (6,4 milhões de euros), os quais a actriz se comprometera a doar ao Hospital Infantil de Los Angeles (CHLA, na sigla original) e à União Americana das Liberdades Civis (ACLU). Em troca, Heard desistiria das acusações de violência doméstica, que surgiram após a separação do casal, quando a actriz pediu uma ordem de restrição contra Depp.

Problema: em Dezembro de 2018, a actriz escreveu um artigo no The Washington Post, onde se assumia como vítima de violência doméstica e sugeria que o agressor seria Depp, apesar de não mencionar directamente o nome do actor. Três meses depois, o capitão Jack Sparrow de Os Piratas das Caraíbas abriu um processo em tribunal, onde pedia para ser indemnizado em 50 milhões de dólares (45,8 milhões de euros). A actriz não se demorou a responder às acusações e submeteu mais de 300 páginas com provas da violência doméstica, num processo de cem milhões de dólares (quase 92 milhões de euros).

Enquanto isso, deste lado do Atlântico, o The Sun rotulava Depp de “wife beater” (“espancador da mulher”, numa tradução livre), o que levou o actor a interpor uma acção contra o tablóide britânico, a editora News Group Newspapers e o editor-executivo Dan Wooton. O julgamento londrino depressa se transformou numa lavagem de roupa suja, com o ex-casal a relatar episódios violentos, e terminou com o juiz a concluir que não podia haver difamação se a afirmação era verdadeira.

Agora, porém, o julgamento norte-americano poderá pender a favor de Johnny Depp, depois de o tribunal ter negado a anulação do caso e deliberado que tanto o CHLA como a ACLU terão de divulgar se Amber Heard doou mesmo a totalidade dos sete milhões àquelas instituições. Ainda assim, a actriz não desiste de provar que foi vítima de violência doméstica e conta com testemunhos de peso, como o de Elon Musk ou James Franco. A favor de Depp espera-se o testemunho de Paul Bettany, o Vision da chancela Vingadores, e de mensagens trocadas com a criadora de Harry Potter, J.K. Rowling.

A acusação

Depp apresentou um processo por difamação de 50 milhões de dólares contra Heard em Março de 2019, argumentando que “a clara implicação do artigo [no The Washington Post] de que o sr. Depp é um agressor doméstico é categórica e comprovadamente falsa”. O actor alegou ainda que o texto de Heard deixou a sua reputação e carreira em farrapos, de tal forma que foi afastado do papel de capitão Jack Sparrow na popular saga da Disney Piratas das Caraíbas. Depp não só negou as alegações de Heard, como afirmou que a ex-mulher exerceu abusos sobre si. E como prova apresenta o valor pedido por Heard para ajudar instituições que não terá sido entregue aos supostos destinatários, considerando que a acusação seria apenas uma forma de enriquecer.

A contra-acusação

Em 2018, Amber Heard escreveu: “Há dois anos, quando me tornei uma figura pública representando os abusos domésticos, senti toda a força da ira da nossa cultura contras as mulheres que falam. Amigos e conselheiros disseram-me que eu nunca mais voltaria a trabalhar como actriz — que seria colocada na lista negra.”

Em resposta ao processo de 50 milhões movido contra si, a actriz avançou com outro no valor de cem milhões. A actriz alega que foi vítima de violência doméstica de Depp, apresentando testemunhas e provas documentais para as agressões físicas, nomeadamente fotografias, o que, a ser provado, como aconteceu em Londres, poderá deitar por terra a acusação de difamação.

Já sobre o dinheiro, a estrela contrapõe, afirmando que prometera doar a quantia do acordo em várias prestações, ao longo de dez anos.

As testemunhas

Elon Musk

O homem mais rico do mundo envolveu-se romanticamente com Amber Heard e Depp afirma que o caso entre os dois começou quando ainda estava casado com a actriz. Não há, até agora, confirmação de que Musk compareça, em pessoa ou virtualmente, já que, por não residir no estado da Virgínia, não pode ser obrigado a responder a qualquer intimação. Mas o seu nome consta de uma lista de possíveis testemunhas a favor de Heard. Já Depp poderá pedir um teste de paternidade, depois de ter levantado a suspeita de que o filho que Amber Heard teve por barriga de aluguer possa ser de Musk.

James Franco

Amigo de longa data de Amber Heard, a actriz ter-lhe-á confidenciado sobre as agressões de Depp e mostrado os hematomas que sofreu. Em 2018, Franco foi acusado de assédio sexual. O actor e produtor chegou a acordo e pagou uma indemnização de 2,2 milhões de dólares.

Paul Bettany

O actor que interpreta Vision na saga Vingadores deverá testemunhar virtualmente a favor de Depp. O propósito será esclarecer as mensagens trocadas entre os dois, tornadas públicas no julgamento londrino, e que falavam em “afogar Amber” ou “queimá-la viva”. “Vivemos num mundo sem contexto”, comentou na época Bettany.

J.K. Rowling

A criadora do universo Harry Potter, do qual Depp fez parte na franquia Monstros Fantásticos (e da qual foi afastado após o veredicto londrino), defendeu publicamente o actor. Agora, é esperado que sejam reveladas mensagens entre os dois que servem o caso de Depp.

O caso

Apesar de ser um processo de difamação, é previsível que as audiências acabem por se desenrolar em torno de temas mais sérios, como a violência doméstica, a liberdade de expressão e os direitos das vítimas.

Tudo o que se vai passar em tribunal poderá ser assistido em directo através da Court Tv.

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