TAP espera atingir 90% da actividade de 2019 neste Verão

A companhia aérea mantém um “optimismo cauteloso” para este ano. Por esta altura, está a cobrir o risco associado a cerca de metade do combustível que consome.

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Cristine Ourmieres-Widener, presidente executiva da TAP, apresentou esta segunda-feira os resultados de 2021. Rui Gaudêncio

À semelhança do resto do sector, a TAP só deverá regressar em pleno aos níveis de actividade que eram registados antes da pandemia a partir do próximo ano. Mas a recuperação esperada para este ano será exponencial: no pico da época alta, neste Verão, a companhia aérea espera já ter atingido 90% dos níveis de 2019.

As perspectivas foram partilhadas esta segunda-feira pela presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener. “O primeiro semestre do ano passado arrancou com desafios operacionais relacionados com a pandemia, mas a capacidade e a procura recuperaram fortemente no segundo semestre. Nesta altura, temos um optimismo cauteloso para 2022”, apontou a responsável, durante a apresentação de resultados anuais da TAP que, em 2021, reportou prejuízos recorde de 1600 milhões de euros.

A justificar este optimismo está a forte recuperação da procura esperada pela TAP, que está em linha com as previsões do restante sector. Assim, a expectativa é que, no segundo semestre de 2022, a companhia aérea atinja 90% dos níveis de actividade registados no mesmo período de 2019.

Ainda assim, vários factores condicionam estas expectativas. “Há uma grande volatilidade a nível global. Não conseguimos prever qual será a evolução da covid-19 e, ao mesmo tempo, a guerra na Ucrânia criou desafios adicionais para algumas companhias aéreas. Para nós, implica um aumento significativo dos custos do combustível, bem como um impacto adicional com as taxas de câmbio e a inflação”, detalhou Christine Ourmières-Widener.

Para fazer face a estes riscos, a TAP vai manter a política de cobertura de jet fuel, iniciada em Outubro do ano passado. São os chamados contratos de hedging, que permitem fixar o preço que as companhias aéreas pagam pelo combustível durante um determinado período. De acordo com os resultados agora apresentados, a companhia aérea nacional fez contratos que cobrem perto de metade do jet fuel que prevê consumir durante o segundo trimestre de 2022. Esta cobertura cai para 39% no terceiro trimestre e para 14% no quarto trimestre.

Nos planos da TAP está, também, o relançamento de rotas que foram suspensas durante a pandemia, embora, para já, a empresa não adiante quaisquer detalhes. “A nossa estratégia é reforçar o nosso negócio core [estratégico], por isso, relançámos todos os nossos destinos para o Brasil. Agora, estamos a olhar para a frequência com que iremos operar. Ainda estamos a trabalhar para a época de Inverno, mas peço que tenham uma expectativa baixa. Se acrescentarmos algum destino, será um para onde já voávamos”, resumiu a presidente da TAP.

254 contratações até final de Maio

Para dar resposta a este aumento da procura que é esperado, a TAP está já em fase de recrutamento, um processo que espera que esteja terminado até ao final de Maio. Tal como já avançou o Expresso na sua última edição, serão contratados mais de 200 tripulantes de cabine, que tinham sido anteriormente dispensados da companhia aérea devido ao impacto da pandemia.

“Até ao final de Maio, teremos mais 254 tripulantes de cabine na nossa companhia”, avançou a presidente da TAP, acrescentando que esta é uma decisão que não choca com a estratégia de corte de custos prevista no plano de reestruturação. “Estamos a recrutar para sermos capazes de manter a oferta. Isso está de acordo com o plano. Todos os operadores do sector estão a fazer o mesmo”, afirmou.

Christine Ourmières-Widener rejeita, também, que o plano de reestruturação tenha calculado erradamente o número de trabalhadores que poderiam ser despedidos. “Todas as companhias da Europa estão a recrutar de novo para o Verão. Tem a ver com a evolução da procura e com a capacidade de previsão. Hoje, estamos numa melhor posição para prever como vai ser a procura do que estávamos no pico da pandemia”, explicou, lembrando que, durante este processo, saíram da TAP 990 tripulantes.

Aos trabalhadores agora recontratados, garantiu ainda a presidente da TAP, são oferecidas as mesmas condições que estão hoje em vigor para todos os trabalhadores, já incluindo os cortes salariais previstos no plano de reestruturação. O facto de todo o sector estar à procura de recrutar não fará com que a TAP ofereça melhores condições para atrair trabalhadores, assegura a responsável.

Em paralelo, a administração da TAP mantém as negociações para celebrar novos acordos de empresa com os trabalhadores, que irão entrar em vigor após a conclusão do plano de reestruturação. A expectativa é que o processo negocial, que abrange 14 acordos de empresa, fique concluído até ao final deste ano. “Começámos as negociações dos nossos novos acordos de empresa e isso é a prioridade para este ano. Não queremos esperar pelo fim do plano de reestruturação para ter esse processo concluído”, disse Christine Ourmières-Widener.

Os novos acordos de empresa, recorde-se, irão entrar em vigor em 2025, depois de concluído o plano de reestruturação da TAP, que prevê que, nessa altura, o custo da companhia aérea com os trabalhadores seja de 545 milhões de euros, menos 200 milhões do que o montante que era registado em 2019.

Portugália integrada na TAP SA

Outra das medidas previstas no plano de reestruturação que irá avançar já este ano é a integração das empresas estratégicas do grupo TAP no negócio da aviação.

Nesse âmbito, a empresa vai apresentar, nos próximos meses, um plano para integrar a Portugália e a UCS (empresa de prestação de serviços de saúde do grupo TAP) no capital da TAP SA, empresa que detém a actividade da aviação e que é controlada a 100% pelo Estado português.

A Portugália é hoje detida na totalidade pela TAP SGPS (a holding do grupo, que, na sequência das ajudas públicas recebidas pela empresa, já não detém qualquer participação na TAP SA), enquanto a UCS é controlada pela TAP Ger (Sociedade de Gestão e Serviços, por sua vez também detida pela TAP SGPS). Com as operações que agora vão avançar – que a administração garante que não violam a proibição de fazer aquisições prevista no plano de reestruturação –, estas duas empresas passarão a estar integradas na TAP SA e, consequentemente, a ser controladas pelo Estado.

“Depois da apresentação dos resultados, haverá uma assembleia geral de accionistas para tomar essa decisão”, adiantou Gonçalo Pires, administrador financeiro da TAP, justificando que a decisão faz parte do compromisso da companhia aérea de se “focar no negócio core”.

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