Seguradoras querem seguros mais caros depois de lucros de 649 milhões em 2021

Presidente da associação que representa o sector justifica subida de preços com a pressão inflacionista. Regularizar sinistro automóvel custa 20% a 30% mais, aponta.

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José Galamba de Oliveira foi empossado em Março para um terceiro mandato na presidência da APS LUSA/MÁRIO CRUZ

O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) avisa, em entrevista, que os seguros vão aumentar devido a factores como o aumento da inflação, que se reflecte no custo dos sinistros. O sector dos seguros sob supervisão prudencial da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) registou lucros de quase 650 milhões de euros, em 2021, mais 40% do que em 202.

"Infelizmente estão muitas coisas a condicionar para [um aumento do preço dos seguros], desde logo a inflação, e, portanto, pensamos que provavelmente o sector não vai estar imune”, afirma José Galamba de Oliveira. Em 2021, além dos lucros provisórios terem ultrapassado 649 milhões de euros (mais de 40% face a 2020), apenas uma das 38 empresas de seguros registou prejuízos, diz a Lusa.

A taxa de inflação tem efeitos positivos no lado dos investimentos das seguradoras (por via da taxa de juro), mas também está a colocar “uma pressão brutal” na componente de custos das seguradoras.

No caso dos acidentes automóvel, insiste José Galamba de Oliveira, um sinistro acarreta, em alguns casos, aumentos de custo de 20% e 30%. Um encargo “extra” que não está ainda reflectido nos prémios de seguros actualmente em vigor, observa o mesmo responsável.

“Há aqui, de facto, uma pressão muito grande na rentabilidade das seguradoras em que para acomodar esta inflação temos de o fazer [subir prémios]. Temos de gerir com muita atenção”, afirma Galamba de Oliveira.

Também nos seguros de saúde, disse, estão a aumentar os custos, desde logo pelo aumento nos tratamentos porque as pessoas chegam mais tarde ao hospital (em 2020, com a crise da pandemia da covid-19 adiaram-se muitas consultas, exames e tratamentos) e muitas doenças agravam-se e os tratamentos ficam mais caros. Também a inovação técnica encarece os tratamentos.

Há ainda outros factores a influir nos custos dos seguros de saúde como o aumento dos salários, alega.

“Uma boa parte das pessoas que estão a trabalhar nos hospitais têm salários indexados ao salário mínimo (pessoal operacional, limpezas) - infelizmente é a realidade - e os aumentos do salário mínimo, que eu percebo que são também precisos, colocam um custo adicional para os hospitais privados que obviamente se fazem reflectir nas seguradoras”, sustenta.

O presidente da APS diz que as seguradoras tentam contornar esses custos para “minimizar o impacto” nos clientes, através de “mais eficácia, mais eficiência e produtividade”, mas alerta que também os seguros de saúde deverão ficar mais caros.

Já em Dezembro de 2021, o supervisor dos seguros alertou para o impacto do contexto económico e social nos ramos de seguros de doença e automóvel, indicando que poderia existir “um agravamento futuro”.

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