Relação com uma jovem de 18 anos provoca demissão do ministro da Defesa da Noruega

Odd Roger Enoksen admitiu que manteve um relacionamento com uma aluna de uma escola secundária, a partir de 2005, quando era ministro do Petróleo e da Energia. A jovem diz que conheceu Enoksen, então com 50 anos, durante uma visita de estudo.

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O agora ex-ministro da Defesa da Noruega, Odd Roger Enoksen Heiko Junge/NTB/REUTERS

O ministro da Defesa da Noruega, Odd Roger Enoksen, de 67 anos, apresentou a demissão do Governo este sábado, depois de ter admitido que manteve relações sexuais com uma jovem de 18 anos em meados da década de 2000, quando tinha 50 anos.

Enoksen, um ex-líder do Partido do Centro — o partido minoritário na actual coligação de Governo na Noruega, liderado pelo Partido Trabalhista —, foi nomeado para o cargo em Setembro de 2021, após a vitória dos trabalhistas nas eleições legislativas.

A demissão já foi aceite pelo primeiro-ministro, Jonas Gahr Store. Numa conferência de imprensa, Store afirmou que as recentes revelações sobre a vida privada de Enoksen “são incompatíveis com a confiança da qual se depende como ministro”.

Horas antes, o ministro da Defesa tinha pedido a demissão num e-mail enviado ao primeiro-ministro.

“Fiz várias escolhas erradas, e vou apresentar um pedido de desculpas sem reservas pelo facto de as minhas acções terem prejudicado a vida de outras pessoas”, disse Enoksen, este sábado, à agência de notícias NTB.

Pedido de desculpas

Segundo o jornal norueguês Verdens Gang (VG), Enoksen iniciou um relacionamento com a jovem de 18 anos, cuja identidade não foi revelada publicamente, em 2005. Na altura, era ela aluna do ensino secundário.

Os dois conheceram-se durante uma visita de estudo da jovem ao Parlamento da Noruega, numa altura em que Enoksen era o ministro do Petróleo e da Energia. Interessada por política, a mulher — hoje com 35 anos — afirma ter-se sentido deslumbrada com o interesse do ministro.

Segundo os jornais noruegueses, o relacionamento durou até 2007, e a mulher diz que os dois praticaram “actos sexuais” no gabinete do então ministro em pelo menos 12 ocasiões.

“Carreguei esta história durante muitos anos e senti vergonha e receio de que não acreditassem em mim”, disse a mulher ao VG. “E não é justo que isso aconteça, quando foi ele quem usou o seu poder e a sua posição para conseguir o que queria.”

Também em declarações ao VG, Enoksen confirma os encontros no seu gabinete, mas nega que os dois tenham mantido relações sexuais nessas ocasiões.

“Sim, eu era mais velho do que ela. Sim, fui deputado e depois ministro. Mas nunca tive qualquer relação de poder sobre ela que a tornasse incapaz de desistir a qualquer momento, se se sentisse desconfortável”, disse Enoksen.

Segunda acusação

Este é o segundo caso de denúncias sexuais contra o influente político norueguês desde o início de Abril.

No primeiro, uma antiga vice-presidente de uma delegação regional do Partido do Centro, Hilde Lengali, acusou Enoksen de a ter empurrado para cima de uma cama num quarto de hotel, e de a ter surpreendido numa sauna com comentários sobre o seu aspecto físico.

Em declarações ao canal NRK, no dia 2 de Abril, Lengali disse que a sua decisão de abandonar a política teve como principal razão a forma como foi tratada por Enoksen.

Segundo Lengali, Enoksen incentivou-a, antes das eleições legislativas de 2001, a candidatar-se a cargos mais importantes nas estruturas do Partido do Centro, e convidou-a para uma reunião num quarto de hotel durante uma das suas viagens como líder partidário.

“Toda a minha confiança desapareceu”, disse Lengali à NRK. “Senti-me estúpida por ter sido enganada.”

Depois do episódio no quarto de hotel, Lengali diz que Enoksen a abordou nos balneários femininos de uma sauna comunitária, e que fez um comentário sobre o seu aspecto físico: “Você parece mais uma estrela de cinema do que mãe de cinco filhos.”

Lengali diz que se sentiu impotente e que não denunciou os casos na altura. Mas, em 2017, motivada pelo movimento MeToo, fez uma participação interna no Partido do Centro.

Segundo Lengali, a sua decisão de publicitar as acusações foi tomada nos últimos meses, quando Enoksen foi nomeado ministro da Defesa da Noruega, 14 anos depois de ter exercido o seu último cargo no Governo.

“Quando vi que ele tinha sido nomeado para o Governo, fiquei chocada. Senti-me decepcionada, como se nada do que eu disse tivesse importância”, disse Lengali à NRK.

Em declarações ao mesmo canal, Enoksen afirmou que não se recorda do episódio no hotel, e reconhece que errou ao abordar Lengali numa sauna — com o objectivo, segundo ele, de a convidar para tomarem o pequeno-almoço.

“A porta do balneário estava aberta, pensei que ela estava pronta para sair. Fui imprudente e fiz um comentário estúpido, mas percebi que tinha errado e pedi logo desculpa”, disse Enoksen.

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