Rui Pinto ainda não terminou consulta de disco externo

Pirata informático deverá começar a dar explicações ao tribunal sobre o seu papel no caso Football Leaks a 13 de Maio. No Twitter disse que o Football Leaks ”tem permitido dar a conhecer revelações de enorme valia e importância, como as relativas ao Manchester City”, divulgadas ontem pela revista Der Spiegel.

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Rui Gaudencio

Suspenso há dez meses por questões processuais, o julgamento de Rui Pinto foi retomado esta sexta-feira por breves minutos: o tribunal não conseguiu ouvir à distância, por videoconferência, duas testemunhas ligadas à Doyen, o fundo de investimento que transaccionava jogadores de futebol e emprestava dinheiro aos clubes desportivos.

A interrupção do julgamento destinou-se a que o pirata informático consultasse, com a supervisão da Polícia Judiciária, as caixas de correio electrónico alegadamente exfiltradas pelo próprio. Presente num dos discos rígidos apreendidos a Rui Pinto na Hungria, esta informação foi armazenada num apenso do processo: depois de vários protestos, o tribunal deu autorização ao denunciante para consultar o material, impedindo contudo a realização de qualquer cópia. Porém, o advogado do arguido, Teixeira da Mota, informou esta sexta-feira os juízes de que o seu cliente só iniciou a consulta da informação que consta do disco rígido na passada segunda-feira, uma vez que antes disso foi preciso proceder à indexação deste material, operação feita através de uma máquina.

As explicações de Rui Pinto, que responde, entre outras coisas, por ter alegadamente tentado chantagear a Doyen, tendo chegado a negociar a sua contratação por parte deste grupo, poderão prolongar-se por mais de uma sessão de julgamento, antecipa o seu representante legal. Depois de ter divulgado online informação confidencial sobre a actividade deste fundo no mundo do futebol, 0 arguido recorreu ao advogado Aníbal Pinto - também arguido neste processo - para que este intermediasse a sua contratação pela Doyen. O que sempre alegou para justificar a sua actuação foi que estava apenas a tentar perceber o valor da informação que recolhera, não sendo sua intenção receber dinheiro algum - embora, segundo o Ministério Público, a sua intenção fosse sacar entre meio milhão e um milhão de euros ao fundo de investimento, para o que recorreu a um nome fictício.

Num email enviado ao seu advogado em Outubro de 2015, Rui Pinto avança algumas possibilidades para receber os salários pagos pela Doyen, o que acabou por nunca acontecer: “Haveria ainda a hipótese de eu criar uma empresa numa offshore, por exemplo em Malta ou no Chipre. Pelo que vi em Malta, o imposto é 35%, mas na realidade é de apenas 5%, porque 30% são devolvidos”. A ideia, explicava, era evitar a dupla tributação.

Antes de terminar a consulta do disco externo Rui Pinto não irá prestar declarações em tribunal. Por isso, ficou agendado para 13 de Maio o início das suas explicações perante os magistrados do Campus da Justiça, em Lisboa num caso que ficou conhecido como Football Leaks.

Na sua mais recente publicação no Twitter, o hacker diz que análise e estudo dos milhões de documentos do Football Leaks “tem permitido dar a conhecer revelações de enorme valia e importância, como as relativas ao Manchester City”. Segundo a última edição da revista Der Spiegel, que acedeu a novos documentos resultantes da pirataria informática, o clube inglês terá sido financiado pelo Governo de Abu Dhabi, mais concretamente pela Agência de Assuntos Executivos.

Rui Pinto está acusado de 90 crimes: tentativa de extorsão, acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência e um de sabotagem informática. Depois da sessão desta sexta-feira está prevista nova interrupção, com o julgamento a regressar novamente no dia 22 de Abril. O seu advogado entregou recentemente documentação ao tribunal destinada a pôr em causa a legitimidade do ex-administrador da Doyen Nélio Lucas para apresentar queixa-crime contra Rui Pinto em 2015. Nessa altura, defende Teixeira da Mota, já não seria representante legal desta sociedade.

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