Braga Ciclável quer incentivos “permanentes” ao uso da bicicleta no concelho

A associação de mobilidade elogia projecto lançado pela autarquia, que oferece vouchers em troca de quilómetros percorridos em bicicleta, mas diz que apoio deve ser directo e prolongado no tempo. E apela ao reforço do investimento em ciclovias.

Foto
Em Braga há menos de nove quilómetros de vias dedicadas para bicicletas Miguel Madeira

A Câmara de Braga anunciou, nesta quarta-feira, o lançamento do projecto BICIFICATION, através do qual serão oferecidos vouchers em troca de quilómetros percorridos em bicicleta. A iniciativa merece o aplauso da Braga Ciclável, mas esta associação defensora da mobilidade suave na cidade, defende que a iniciativa, que tem a duração de três meses, podia “perdurar ao longo dos anos”.

O projecto, financiado pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, prevê que, por cada quilómetro feito em bicicleta – e que é monitorizado através de um GPS colocado numa das rodas - o utilizador receba 25 cêntimos em caso de uma viagem para o trabalho ou para a escola, e sete cêntimos em viagens de outro contexto. No total, os participantes podem acumular um euro por dia e 28 euros por mês, montante que poderá depois ser descontado no comércio local.

Ao PÚBLICO, Mário Meireles, presidente da associação, congratula-se com a iniciativa, mas propõe uma reformulação do apoio, com a atribuição de “incentivos financeiros directos” em substituição dos vouchers, à semelhança do que já existe noutros países. “Na Bélgica, o utilizador pode acumular 665 euros por ano, em França, atribui-se um subsídio de 200 euros, e na Holanda, oferece-se 15 cêntimos por quilómetro pedalado”, exemplifica, lembrando ainda o modelo adoptado pela região autónoma da Andaluzia, em Espanha, que, em vez de verbas ou descontos, concede dias de férias: “Se o cidadão se deslocar para o trabalho de bicicleta ganha sete minutos do empregador. São três dias a menos de trabalho por ano”.

Os exemplos de incentivos financeiros em troca do uso da bicicleta, retirados da tese de doutoramento de Mário Meireles, demonstram que “há repercussões nas transferências modais, ou seja, que as pessoas deixam efectivamente de andar de carro para andar de bicicleta”. Em Braga, o primeiro projecto-piloto foi lançado no passado dia 1 de Abril no site da Câmara e já regista mais de 400 inscrições, número que “não surpreende”. “Quando há a vantagem de receber algo, é normal que as pessoas participem.”

No entanto, o responsável da Braga Ciclável entende que o número de inscritos podia ser multiplicado por dez, caso “houvesse infra-estruturas seguras” na cidade. A associação sugere, por isso, que o município destine, nos próximos dez anos, 5% do seu orçamento na reorganização de infra-estruturas cicláveis. No lançamento do BICIFICATION, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, adiantou que concelho tem o objectivo de ter, até 2025, 80 quilómetros de rede ciclável, em contraponto aos 8,6 actuais.

“Há oito anos que ouvimos isso, mas o que é preciso é fazer”, lembra Mário Meireles, para quem a meta não é, contudo, impossível de atingir. “Em Sevilha, toda a rede ciclável foi executada em 18 meses. Tem é de haver vontade e disponibilidade financeira”, assinala.

Demasiado espaço para carros

Apesar de ter reconhecido que “ainda existe um privilégio enorme da utilização da viatura individual face a todas as outras alternativas de transporte”, o presidente da Câmara de Braga opõe-se a “uma visão dogmática que imponha a bicicleta” na cidade. Mas, para Mário Meireles, existe “um dogma, sim, mas para o uso do carro” e sublinha que a associação defende “uma visão e não uma imposição”. “O que se pretende é que o espaço público esteja preparado para receber todos os meios de transporte. Para isso, o carro não pode ter 80% do espaço público”.

Actualmente, a rede ciclável do concelho constitui-se pelas ciclovias do Este, da Variante da Encosta de Lamaçães, da Rua Nova de Santa Cruz, e da Variante do Fojo – cuja primeira fase ainda está em execução. É sobretudo nesta rede que, entre 1 de Julho e 30 de Setembro, o projecto do BICIFICATION vai ter lugar. A Braga Ciclável sugere que, para “haver mais adesão” dos bracarenses, os decisores e técnicos municipais devem inscrever-se, deixando-lhes um desafio: “Participando, iam perceber a insegurança de pedalar em Braga, quando há automóveis a atingir velocidades inaceitáveis em avenidas urbanas. Se se inscrevessem, se calhar, aí sim, teríamos os 80 quilómetros de ciclovia em três anos”.

Sugerir correcção
Comentar