Presidente do Iémen cede poder a um conselho para tentar acabar com a guerra

Hadi e Governo saudita apelam a um acordo com os rebeldes houthis no âmbito dos objectivos definidos pelas Nações Unidas.

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Abd-Rabbu Mansour Hadi, Presidente do Iémen, num discurso televisivo esta quinta-feira YEMEN TV/Reuters

Abd-Rabbu Mansour Hadi, Presidente do Iémen, cedeu esta quinta-feira os seus poderes a um conselho e dispensou o seu vice. A decisão tem como objectivo apoiar os esforços liderados pelas Nações Unidas para revitalizar as negociações para pôr fim à guerra que aflige o país há sete anos.

“Delego no Conselho de Liderança Presidencial, de forma irreversível, todos os meus poderes, em conformidade com a Constituição e com a Iniciativa do Golfo, e com o seu mecanismo executivo”, afirmou Hadi à televisão estatal.

A tomada desta decisão, acrescentou, baseia-se na “responsabilidade histórica, nacional e humanitária, perante as circunstâncias actuais no país” e no “desejo de envolver líderes efectivos na gestão do Estado nesta fase de transição”.

Hadi tinha assumido o controlo de um Estado em desintegração há cerca de uma década, na sequência dos protestos que derrubaram o Presidente Ali Abdullah Saleh, morto em 2017.

O vice-presidente dispensado por Hadi é o general Ali Mohsen al-Ahmar, uma figura incómoda para os rebeldes houthis, por causa das operações militares que liderou no seu bastião, a Norte, mas também muito criticada no Sul, devido ao seu papel durante a guerra civil de 1994.

Pouco depois do anúncio, Riade anunciou um pacote de 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,76 mil milhões de euros) em ajuda financeira ao Governo iemenita, apoiado pela Arábia Saudita, e pediu o retomar das discussões com os houthis, que controlam a região Norte do Iémen, depois de terem expulsado Hadi da capital, Saana, em 2014.

O Governo saudita solicitou ao novo conselho para negociar com os rebeldes apoiados pelo Irão no âmbito dos pedidos da ONU para “uma solução final e abrangente”.

As duas partes beligerantes alcançaram recentemente, e pela primeira vez em seis anos, um acordo de cessar-fogo, com duração de dois meses. A trégua também permitiu o afrouxamento do bloqueio imposto pela coligação militar liderada pelos sauditas aos territórios controlados pelos houthis.

“Esta é uma tentativa – provavelmente um esforço derradeiro – para reconstituir algo que se possa assemelhar a uma unidade dentro da aliança anti-houthi”, escreveu no Twitter Gregory Johnsen, antigo membro do Painel de Especialistas do Iémen das Nações Unidas.

“O problema é que não é claro perceber como é que estes vários indivíduos, muitos deles com posições diametralmente opostas, vão trabalhar em conjunto”, acrescentou.

Composto por oito membros, o conselho é liderado por Rashad Al-Alimi, ex-ministro do Interior, e figura próxima do partido islamista Al-Islah, que sustenta o Governo de Hadi, mas que merece a desconfiança dos Emirados Árabes Unidos, que integram a coligação liderada pela Arábia Saudita.

O conselho inclui, no entanto, elementos de facções apoiadas pelos Emirados Árabes Unidos, como Aidarous al-Zubaidi, do Conselho de Transição do Sul, que disputou com Hadi o controlo por Áden.

Vista como uma guerra por procuração, disputada entre Arábia Saudita e Irão, a guerra no Iémen já tirou a vida a dezenas de milhares de pessoas, devastou a economia do país e colocou parte do território à beira da fome extrema.

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