UE doa 3 milhões de comprimidos de iodo a Kiev e cria reserva médica estratégica

A doação de 3 milhões de comprimidos de iodo à Ucrânia por parte da UE vem mostrar uma maior preocupação com possíveis acidentes ou ataques nucleares, causados pela invasão russa. Ainda assim, especialistas vêem a sua toma como “potencialmente perigosa.”

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A Polónia, a Bulgária e a República Checa foram os países que mais sentiram esta corrida aos comprimidos de iodo nas farmácias Nuno Ferreira Santos

A União Europeia (UE) enviou quase três milhões de comprimidos de iodo para a Ucrânia e está a constituir reservas estratégicas de capacidades de resposta a riscos de saúde.

Como primeiro passo, a UE conseguiu entregar à Ucrânia quase três milhões de comprimidos de iodeto de potássio, que podem ser utilizados para proteger as pessoas dos efeitos nocivos da radiação, através do Mecanismo de Protecção Civil da UE (rescEU), com a ajuda da Espanha e França, segundo um comunicado do executivo comunitário.

As reservas estratégicas para responder a ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares (QBRN) à saúde pública ascendem ao valor de 540,5 milhões de euros e são compostas de equipamento médico e medicamentos, vacinas e outras terapêuticas para tratar pacientes expostos a estes agentes.

O rescEU irá ainda fornecer equipamento de descontaminação e equipas de peritos na matéria.

Esta decisão surge depois da tomada de controlo das centrais de Tchernobil, entretanto abandonada pelas forças russas, de Zaporizhzhia e das ameaças nucleares constantes.

Ainda assim, mesmo que a ameaça nuclear de Putin tenha feito disparar a procura por comprimidos de iodo na Europa, muitos especialistas em medicina nuclear destacam que estes comprimidos só devem ser tomados de acordo com as recomendações das autoridades de saúde pública e que a sua ingestão pode ser “contraproducente” e “potencialmente tóxica” para pessoas com mais de 40 anos.

A Polónia, a Bulgária e a República Checa foram os países que mais sentiram esta corrida às farmácias. Segundo a Euronews, nestes países (e também na Finlândia e nos Países Baixos) houve um aumento da procura por comprimidos de iodo desde que as forças russas tomaram o controlo da central de Tchernobil, no final de Fevereiro.

Depois do ataque junto da central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, as farmácias em Portugal também registaram um aumento da procura por produtos com iodo, segundo a Associação Nacional de Farmácias. Também aos médicos de família têm chegado pontualmente questões relacionadas com o mesmo tipo de produtos. Os suplementos ou medicamentos à venda em Portugal com iodeto de potássio têm doses muito inferiores às recomendadas em caso de exposição a radioactividade e por isso a sua compra não faz sentido e pode trazer riscos para a saúde, de acordo com a Ordem dos Farmacêuticos.

Implicações da toma de iodo na saúde

O iodo pode ser tomado em comprimidos ou xarope. A Organização Mundial da Saúde recomenda que pessoas com menos de 40 anos, gestantes e crianças tomem iodo — também conhecido como iodeto de potássio — para proteger a tiróide da exposição à radiação após um acidente nuclear. Segundo um comunicado publicado pela organização, o iodeto de potássio impede a glândula da tiróide de absorver o iodeto radioactivo, que pode causar cancro — significando, assim, que o iodo estável impede o iodo radioactivo, bloqueando-o de ser absorvido.

Esta doação por parte da União Europeia levanta, contudo, questões ligadas à saúde e à toma destes comprimidos. Alguns especialistas em medicina nuclear destacam que estes comprimidos só devem ser tomados de acordo com as recomendações das autoridades de saúde pública.

“Até que ponto os comprimidos de iodo seriam úteis contra os efeitos das bombas nucleares é, no mínimo, questionável”, explicou à Euronews Hielke Freerk Boersma, especialista em protecção contra radiações da Universidade de Groningen, nos Países Baixos.“O uso desnecessário de comprimidos de iodo — o que pode acontecer quando as pessoas entram em pânico — também pode causar efeitos adversos para a saúde”, acrescentou.

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