Rússia alerta que tem de pagar em rublos aos investidores de obrigações

Os EUA estão a impedir Moscovo de usar dólares guardados nos bancos norte-americanos para pagar dívidas. Novas sanções poderão ser anunciadas esta quarta-feira.

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Rublo recuperou parte da queda registada depois da invasão da Ucrânia EPA/MAXIM SHIPENKOV

O ministro das Finanças da Rússia alertou esta quarta-feira que os pagamentos ligados a duas emissões de obrigações, uma que vence agora e outra em 2042, terão de ser feitos em rublos, apesar de estarem denominadas em dólares.

O anúncio foi feito, conforme dá nota a Reuters, depois de um banco, cujo nome não foi identificado, se ter recusado a processar o pagamento de 649 milhões de dólares ainda em falta - depois de uma primeira operação de recompra, em rublos, conforme noticia o New York Times, de grande parte da emissão de 2000 milhões de dólares que chegou agora à maturidade.

De acordo com a Reuters, a Rússia permitirá depois a estes investidores a conversão dos rublos em moeda estrangeira quando for restaurado o acesso ao mercado cambial internacional. Assim, Moscovo tenta evitar o incumprimento (default, em inglês) das suas obrigações junto dos investidores.

O bloqueio foi imposto pelos EUA, que impedem desde segunda-feira que Moscovo use dinheiro guardado nos bancos norte-americanos para efectuar o pagamento de dívidas. A estratégia passa por tentar diminuir as reservas de moeda internacional da Rússia, ou “empurrar” Putin para um incumprimento de pagamento.

“O incumprimento do pagamento da dívida soberana seria um símbolo do forte golpe que foi desferido à posição da Rússia na economia mundial através da imposição de sanções financeiras, comerciais e tecnológicas” afirmou ao New York Times Eswar Prasad, economista e ex-responsável pela divisão de estudos financeiros do FMI.

Já a Rússia, através do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskovse, garante que tem todos os recursos necessários para honrar as suas dívidas. “Se o bloqueio aos pagamentos continuar, este poderá ser feito em rublos”, afirmou este responsável, citado pela Reuters. De acordo com esta agência, há 15 emissões de obrigações internacionais de dívida soberana russa, no valor de cerca de 40 mil milhões de dólares.

De acordo com o Financial Times (FT), mesmo que a questão ligada a estes pagamentos seja resolvida, o problema vai tornar-se mais complicado após o dia 25 de Maio, quando acaba a excepção nas sanções que tem permitido aos investidores norte-americanos receberem as remunerações a que têm direito.

“A Rússia está em recessão, a inflação está a disparar, há carência de bens essenciais, e a sua moeda já não funciona em grande parte do mundo”, alegou esta terça-feira um porta-voz da Casa Branca, citado pelo FT.

Esta quarta-feira a Casa Branca decidiu acançar com novas sanções, que, de acordo com o New York Times, incluem o fim das relações entre o sistema financeiro norte-americano e os bancos Sberbank - a maior instituição bancária da Rússia - e Alfa Bank – o mais importante entre os que são controlados por privados.

As sanções implicam também o bloqueio dos activos nos EUA que sejam detidos por membros da da família de Vladimir Putin e seus associados. Na lista, segundo o jornal norte-americano, incluem-se duas filhas adultas do presidente russo, Katerina Tikhonova e Maria Putina, que tem usado o nome de Maria Vorontsova.

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