Angola volta a crescer após cinco anos de recessão

Economia teve um crescimento de 0,7% em 2021, de acordo com o INE angolano. FMI prevê que este ano, em que se realizam eleições presidenciais, o PIB suba 2,9%.

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País presidido por João Lourenço sofreu com os impactos da pandemia LUSA/AMPE ROGÉRIO

Depois de um ciclo de cinco anos de recessão, a economia angolana conseguiu voltar a crescimento no ano passado, período em que o PIB subiu 0,7%, de acordo com os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola. Confirmando-se este valor, fica acima do crescimento de 0,1% estimado pelo FMI em Dezembro, mas é ainda inferior à subida de 0,9% do PIB registada em 2015, último ano de crescimento económico – seguindo-se depois variações de -2,6% em 2016, -0,2% em 2017, -2,1% em 2018, -0,6% em 2019 e -5,2% em 2020. A queda abrupta da economia em 2020 explica-se pelos efeitos da pandemia de covid-19, o que se agravou com a queda dos preços do petróleo, matéria-prima fulcral para a riqueza do país.

Para este ano, a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é a de que a economia cresça 2,9%.

No relatório divulgado em Janeiro deste ano, o FMI reiterou a importância de diversificar a economia angolana através de “reformas estruturais profundas e contínuas” para “alcançar um crescimento inclusivo e consolidar a sustentabilidade económica”. “A rápida expansão da produção não petrolífera requer a implementação das reformas em curso para reforçar a governação, melhorar o ambiente empresarial e promover o investimento privado e a abertura comercial, bem como o desenvolvimento do capital humano e das infra-estruturas”, referiu a instituição. “As autoridades também devem promover as condições para um desenvolvimento mais célere dos principais sectores económicos, tais como a agricultura, as telecomunicações e o sector financeiro”, acrescentou.

Segundo o FMI, que finalizou há pouco tempo um programa de apoio a Luanda, as perspectivas económicas a médio prazo são “favoráveis”, prevendo-se “um crescimento em torno de 4%”, impulsionado pelos sectores não petrolíferos - o sector petrolífero continuará estagnado. A previsão é de que inflação, que tem estado em valores muito elevados, comece a descer “gradualmente”. Em Janeiro, de acordo com uma nota recente do BPI, a inflação homóloga aumentou para 27,7%, o que representou “o décimo mês consecutivo de subida e o valor mais alto desde Julho de 2017”.

Para o FMI, que elaborou este relatório antes da invasão da Ucrânia (que veio agravar os preços do petróleo, mas também de outras matérias-primas importadas por Luanda), os principais riscos para as perspectivas de crescimento “são a inversão da recente recuperação do preço do petróleo, o ressurgimento da pandemia (no país ou no mundo) e um contínuo declínio da produção petrolífera”.

“Uma repetição das severas condições meteorológicas constituiria um risco adicional para o crescimento não petrolífero e para a desinflação. Um crescimento não petrolífero aquém do esperado constituiria um risco para a sustentabilidade da dívida pública, que também depende da continuação da disciplina orçamental”, alerta o FMI, não deixando de notar que este é um ano de eleições presidenciais (previstas para Agosto), com o sucessor de José Eduardo dos Santos, João Lourenço, a recandidatar-se ao cargo.

Angola tem sido, tradicionalmente, um dos grandes parceiros comerciais de Portugal, com destaque para as compras que faz de produtos nacionais, mas essa posição tem vindo a esbater-se nos últimos anos. Mesmo assim, as vendas de bens para Angola voltaram a subir em 2021, depois de três anos a cair, chegando aos 952 milhões de euros (mais 9%). Portugal foi durante muitos anos o principal fornecedor de Angola (com destaque para os bens agro-alimentares e maquinaria), mas perdeu a liderança para a China (que é também o principal cliente de Angola, por via do petróleo).

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