Covid-19: quarta dose da vacina recomendada apenas para maiores de 80 anos

Parecer da EMA e do ECDC responde a apelo dos ministros da Saúde da União Europeia para que fosse autorizada a administração de uma segunda dose de reforço a quem tem mais de 60 anos.

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Um estudo israelita com pessoas maiores de 60 anos mostrou que o aumento de protecção contra infecção da quarta dose começou a diminuir passadas quatro semanas EPA/Nathalia Aguilar

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) e o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) emitiram um parecer dizendo não existirem provas de que uma segunda dose de reforço (ou quarta dose) de vacina contra a covid-19 de ARN mensageiro (ARNm) se justifique para a população em geral. No entanto, recomenda-a para os maiores de 80 anos, “devido à fragilidade desta população, a menor resposta imunitária á vacinação e o maior risco de desenvolverem casos graves de covid-19”.

Os únicos estudos que fornecem dados, embora preliminares, sobre a eficácia da administração de uma quarta dose estão a ser feitos em Israel. Esta semana, foram publicados na revista New England Journal of Medicine resultados de um estudo feito com 1,3 milhões de pessoas que mostra que a administração de uma quarta dose da vacina da Pfizer/BioNtech fazia descer as taxas de infecção entre as pessoas com mais de 60 anos, mas esse aumento de protecção era efémero: reduzia-se passadas quatro semanas.

No entanto, a protecção contra doença grave não diminuía, pelo menos nas seis semanas a seguir à vacinação – embora os cientistas sublinhem que é necessário continuar a avaliação a longo prazo. O estudo foi feito entre 10 de Janeiro e 2 de Março, quando a variante Ómicron era predominante.

A EMA e o ECDC sublinham que não há provas claras na União Europeia de que a protecção conferida pelas vacinas de ARN mensageiro contra doença grave por causa da covid-19 diminua de forma substancial em adultos entre os 60 e os 79 anos com sistemas imunitários normais.

Mas para as pessoas que são imunodeprimidas, e para quem as vacinas podem não ter conferido a protecção desejada, é já recomendada a administração de uma segunda dose de reforço, recordam a EMA e o ECDC. “Adicionalmente, deve ser considerada a imunização passiva com anticorpos monoclonais em pessoas gravemente imunodeprimimidas, como um escudo adicional contra infecção [pelo vírus SARS-CoV-2] ou doença”, diz o comunicado conjunto das duas agências europeias.

Esta recomendação surge depois de na semana passada os ministros da Saúde da União Europeia terem incentivado estas entidades reguladoras a apoiar a administração de uma quarta dose às pessoas com mais de 60 anos, na esperança de aumentar a sua capacidade de resposta imunitária, dado não existirem ainda vacinas adaptadas especificamente à variante Ómicron.

No entanto, a EMA e o ECDC dizem que “para indivíduos com menos de 60 anos e imunocompetentes, a administração de uma segunda dose de reforço não tem apoio nos dados disponíveis sobre o nível de protecção continuada contra doença grave ou morte”.

A Food and Drug Administration, a agência que regula o mercado dos medicamentos nos Estados Unidos, está a analisar a eventual necessidade de autorizar mais reforços vacinais – uma semana depois de os EUA terem já autorizado a quarta dose para quem tem mais de 50 anos. Nos EUA, está a iniciar-se uma vaga de infecções devido à subvariante BA.2 da Ómicron.

Em Portugal, a BA.2 está plenamente instalada: representa “90,5% das amostras sujeitas a sequenciação da semana” de 27 de Março, segundo o mais recente relatório sobre a diversidade genética do coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), de 5 de Abril.

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