Uma arquitectura aberta ao “que as pessoas têm para dizer”: AND-RÉ sobre o Centro de Artes de Águeda

O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Desta vez, os arquitectos Bruno André e Francisco Salgado Ré falam sobre o Centro de Artes de Águeda.

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Centro de Artes de Águeda Fernando Guerra
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Centro de Artes de Águeda Fernando Guerra
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Centro de Artes de Águeda Jose Caldeira
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Centro de Artes de Águeda Fernando Guerra
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Centro de Artes de Águeda Fernando Guerra

O podcast No País dos Arquitectos está de regresso com uma terceira temporada. No 34.º episódio do podcast, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Bruno André e Francisco Salgado Ré, do estúdio criativo AND-RÉ, sobre o Centro de Artes de Águeda (CAA).

Entre o primeiro concurso público internacional, que venceram em 2010, e a inauguração do Centro de Artes passaram sete anos. Actualmente, sabe-se que o edifício com 4500 metros quadrados, com um orçamento de quatro milhões de euros, foi projectado em plena crise financeira, com parcos recursos económicos. Perante um programa ambicioso, este projecto revelou-se “um pequeno grande milagre” para a AND-RÉ, empresa de arquitectura e design nascida em 2008.

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Nesse contexto, Bruno André e Francisco Salgado Ré procuraram não só responder às necessidades do cliente – a Câmara Municipal de Águeda –, mas também encontrar um equilíbrio entre a criatividade, o diálogo com as equipas especializadas e aquilo que era viável executar numa conjuntura de grande fragilidade. Estava-se “no pico da crise”, por isso “os sistemas construtivos tiveram de ser muito bem ponderados” para responder aos objectivos e às ambições de um programa complexo.

O edifício ficou dividido em três vertentes: o auditório, a sala de exposições e o café-concerto. O auditório funciona como “uma estrutura multidisciplinar” e, como tal, exigiu um cuidado no estudo da acústica e de outros pormenores técnicos num processo que se revelou desafiante, dado o baixo orçamento de que os arquitectos dispunham para o projecto. Francisco Salgado Ré acredita que o coração deste edifício reside precisamente neste espaço. Equipado para um conjunto de práticas artísticas, o auditório é capaz de albergar espectáculos como o teatro, a dança, os concertos, as conferências, o cinema, entre outros. Para além do programa principal, o edifício conta também com uma sala-estúdio, livraria, reservas, serviços administrativos e espaços de apoio.

Construído no sítio onde outrora estava uma antiga fábrica de cerâmica, o volume de betão à vista abraça o terreno e cria uma praça pública, que funciona como uma extensão do Centro de Artes de Águeda. Esta praça conta com um elemento icónico – a chaminé da indústria cerâmica, que já existia e que foi preservada no projecto, servindo de testemunho do passado industrial: “Pretendíamos que se percebesse que a chaminé impactava o edifício e, principalmente, impactava a organização formal, assim como a implantação do edifício porque também é ela que marca a praça, que dá a chegada ao Centro de Artes de Águeda e cria uma hierarquia de percursos”, descreve o arquitecto Bruno André.

O volume aparenta levitar sobre uma massa de vidro transparente, o que lhe confere uma certa imaterialidade. Essa dicotomia – entre o que se abre e o que se fecha, o que é revelado e o que fica oculto – cria mais força “ao embasamento em vidro, que procura ser permeável e que, simultaneamente, chama a atenção e convida o acesso”. A ideia dos arquitectos era “criar um volume praticamente opaco que despertasse surpresa e que surpreendesse”.

Francisco Salgado Ré revela ainda que em Águeda houve um grande envolvimento por parte da comunidade, das associações e das escolas neste Centro de Artes “por fruto do programa e dos acontecimentos”. Hoje, o edifício tem boa receptividade e chega a pessoas fora da comunidade aguedense: “Procurámos que os edifícios consigam ter um impacto que vai para além da sua forma, que consigam impactar a cidade e que, por sua vez, possam atrair públicos e tornar a cidade um espaço melhor”, sintetiza o arquitecto.

Na tentativa de “fazer mais com menos”, o escritório AND-RÉ optimizou recursos e lançou as sementes para que não só o edifício conseguisse chegar a diferentes pessoas, mas também para que a cidade pudesse projectar-se. O arquitecto Diébédo Francis Kéré, vencedor do Pritzker na edição de 2022, chegou a falar sobre essa possibilidade de fazer boa arquitectura mesmo quando os recursos são reduzidos. E é nesse contexto que Bruno André e Francisco Salgado Ré revelam o que este edifício lhes ensinou sobre a arquitectura: “Com a arquitectura percebemos que, através do desenho e do critério da utilização dos materiais, podemos fazer a diferença. (…) Tudo isso dá mais trabalho à concepção, ao acompanhamento e ao próprio pensamento da arquitectura. Temos de ser um bocadinho mais criativos não só no desenho ou na forma per si, mas na utilização dos recursos que temos disponíveis”, explica Bruno André.

Para ambos os arquitectos, existe uma multiplicidade de saberes que não se esgota no acto de projectar e que se liga a uma forma democrática e participativa de fazer arquitectura. É nesse contexto que Francisco Salgado Ré faz uma pequena reflexão: “A nossa geração ficou muito mais – e digo isto não só por nós próprios, mas por uma geração inteira – habilitada e capaz de pensar a arquitectura e os problemas de forma diferente, quer seja na forma como dialogamos com os clientes, na forma como dialogamos com os players e também na forma como nós próprios nos mostramos ao mundo. Ficamos possivelmente mais abertos e permeáveis àquilo que as pessoas têm para dizer, bem como às próprias dificuldades para que consigamos encontrar resultados positivos”.


No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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