ONU e vários países chocados com Bucha, onde há centenas de corpos nas estradas e em valas comuns

“É essencial que uma investigação independente permita encontrar os responsáveis”, disse o secretário-geral da ONU. Os corpos de 410 civis foram encontrados em territórios da região de Kiev recentemente recuperados pelas forças ucranianas.

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Um cadáver numa estrada de Bucha Reuters/STRINGER
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Um cadáver em Bucha Reuters/ZOHRA BENSEMRA
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Tom, ucraniano de nove anos, junto a um tanque russo destruído em Bucha EPA/ATEF SAFADI
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Forças ucranianas inspeccionam um tanque russo em Bucha EPA/ATEF SAFADI
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Moradora em Bucha, Tanya Nedashkivska conta como o marido Vasyl Ivanovych foi morto por soldados russos Reuters/ZOHRA BENSEMRA

O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se este domingo “profundamente chocado com as imagens de civis mortos em Bucha”, no noroeste de Kiev, onde muitos corpos foram descobertos após a partida das forças russas.

“É essencial que uma investigação independente permita encontrar os responsáveis”, acrescentou num breve comunicado à imprensa.

Em Bucha, cidade localizada a cerca de 30 quilómetros de Kiev, recentemente recuperada pelas forças ucranianas, dezenas de cadáveres foram encontrados nas ruas e enterrados em valas comuns. A Rússia negou que as suas tropas tenham matado civis nesta cidade e assegurou que todas as fotografias e vídeos publicados pelo governo ucraniano são “uma provocação”.

No entanto, várias fotografias captadas por fotojornalistas mostram muitos cadáveres de civis nas ruas. Jornalistas da AP viram os corpos de pelo menos 21 pessoas em vários locais à volta de Bucha. Um grupo de nove, todos vestidos à civil, estava num local que os moradores disseram ser usado pelas tropas russas como base. Aparentemente, terão sido mortos à queima-roupa. Pelo menos dois tinham as mãos atadas atrás das costas: um foi alvejado na cabeça, o outro tinha também as pernas atadas.

Os corpos de 410 civis foram encontrados em territórios da região de Kiev recentemente recuperados pelas forças ucranianas, anunciou este domingo a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova.

“Barbárie”, “ataques desprezíveis”

O Presidente francês Emmanuel Macron juntou-se aos políticos a condenar, publicamente, a situação em Bucha. “As imagens que nos chegam de Bucha, uma cidade libertada perto de Kiev, são insuportáveis”, escreveu o líder francês no Twitter ao começo da tarde. “Nas ruas, centenas de civis assassinados covardemente”, descreve. “As autoridades russas terão que responder por estes crimes.”

“Putin e os seus apoiantes vão sofrer as consequências” das suas acções, reagiu o chanceler alemão Olaf Scholz, antecipando uma nova vaga de sanções do Ocidente ao regime russo.

Também o governo espanhol se manifestou indignado com as “imagens insustentáveis” captadas em Bucha e pediu uma investigação por “crimes de guerra”. “Toda a minha solidariedade com as vítimas desta barbárie”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, numa publicação no Twitter.

Num tom idêntico, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson classificou os acontecimentos em Bucha como “crimes de guerra” e “ataques desprezíveis” e prometeu aumentar as sanções contra Moscovo.

“Os ataques desprezíveis da Rússia a civis inocentes em Irpin e Bucha são mais uma evidência de que Putin e o seu exército estão a cometer crimes de guerra na Ucrânia”, disse o chefe do executivo britânico em comunicado.

Através das redes sociais, também o primeiro-ministro português condenou as “atrocidades contra civis” cometidas na cidade ucraniana, classificando-as como uma “barbaridade inaceitável”.

“É chocante a brutalidade das imagens que nos chegam de Bucha. Condenamos veementemente estas atrocidades contra civis. Uma barbaridade inaceitável que tem de ser veementemente punida pela justiça internacional”, escreveu António Costa na sua conta oficial na rede social Twitter.

As tropas da Ucrânia encontraram corpos com sinais de tortura, mãos atadas e ferimentos de bala, após os soldados russos terem saído dos arredores de Kiev, indicaram este domingo as autoridades.

Citadas pela agência Associated Press (AP), as autoridades revelaram estar a documentar as evidências dos alegados crimes de guerra.

O conselheiro do Presidente ucraniano Oleksiy Arestovych disse que dezenas de moradores foram encontrados mortos nas ruas de Bucha e nos subúrbios de Kiev, no que classificou como uma “cena de um filme de terror”.

Algumas pessoas foram amarradas e baleadas na cabeça e os corpos mostram sinais de tortura, referiu Arestovych, notando que existem relatos de violações.

“Genocídio”, diz Zelenskii

O Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, acusou o seu homólogo russo de cometer “um genocídio” com a invasão da Ucrânia.

“Sim, é um genocídio. A eliminação de toda a nação. Nós temos mais de 100 nacionalidades. Trata-se de destruir e exterminar todas essas nacionalidades”, afirmou Zelenskii, em declarações ao canal americano CBS.

A Ucrânia já tinha acusado a Rússia de cometer um “massacre deliberado” em Bucha e outros “horrores” nas regiões que, entretanto, foram libertadas. “Isto está a acontecer na Europa e no século XXI”, reiterou, sublinhando que “toda a nação está a ser torturada”.

Mais sanções?

Em linha com o Presidente do país, o autarca de Kiev, Vitali Klitschko, disse ao jornal alemão Bild que “o que aconteceu em Bucha e noutros subúrbios de Kiev só pode ser descrito como um genocídio”, apelando ao fim das importações de gás russo. Para o governante, “nem um centavo” deveria ser dado à Rússia, uma vez que esse dinheiro servirá para financiar um massacre.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, por sua vez, já tinha pedido o reforço das sanções contra Moscovo, como o fim da importação de energia. “O massacre em Bucha foi deliberado […]. Os russos pretendem eliminar o maior número possível de ucranianos”, apontou no Twitter.

No mesmo sentido, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, condenou “as atrocidades cometidas pelo exército russo” e prometeu que a União Europeia vai aplicar mais sanções àquele país.

Os ministros das Relações Externas da França, Alemanha, Itália e Reino Unido também se insurgiram contra os ataques, garantindo que a Rússia vai ser responsabilizada.

“Não vamos permitir que a Rússia encubra o seu envolvimento nessas atrocidades, através da desinformação, e garantimos que essa realidade vai ser exposta”, disse a secretária das Relações Externas do Reino Unido, Liz Truss.

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