Sri Lanka impõe recolher obrigatório em plena crise económica

Grupo de advogados pede o fim do estado de emergência. Cresce a preocupação que as autoridades reprimam protestos com medidas draconianas.

Foto
A falta de botijas de gás para cozinhar é uma das razões para o descontentamento no Sri Lanka CHAMILA KARUNARATHNE/EPA

O Governo do Sri Lanka impôs um recolher obrigatório este sábado quando o país atravessa uma grave crise económica com falta de bens alimentares, medicamentos, combustível, botijas de gás de cozinha e ainda cortes no fornecimento de energia a durarem 12 horas ou mais.

O recolher obrigatório, no âmbito da declaração de estado de emergência, deve durar 36 horas, e tem como objectivo evitar novos protestos dois dias depois de uma multidão ter incendiado alguns veículos perto da residência privada do Presidente, Gotabaya Rajapaksa.

Enquanto isso, centenas de advogados terem pedido ao chefe de Estado para revogar o estado de emergência para assegurar que a liberdade de expressão e de reunião pacífica são asseguradas. “Tem havido uma incapacidade de perceber as aspirações das pessoas e ter empatia com o sofrimento das pessoas do país”, disse a Ordem dos Advogados do país em comunicado.

Ayeshea Perera, editora responsável pela zona da Ásia da BBC, diz que a decisão de decretar o estado de emergência provocou “choque” já que permite medidas draconianas, aumentando o receio de que o governo possa recorrer a uma repressão brutal dos manifestantes.

O exército foi, entretanto, colocado nas ruas e pode agora efectuar detenções sem mandado.

Na sexta-feira, foram presos 53 manifestantes e meios de comunicação social locais relataram que cinco repórteres fotográficos foram detidos e torturados por estarem presentes na manifestação.

Apesar disso, os protestos continuaram e espalharam-se para outras partes do país. Na capital, alguns manifestantes pediram a demissão do Presidente.

O Governo está com dificuldades em conseguir moeda estrangeira para pagar as importações de combustível: segundo a Reuters, um navio com 5500 toneladas de gás de cozinha teve de deixar o país depois de a empresa que o tinha encomendado não conseguir obter de bancos locais os 4,9 milhões de dólares para pagar a mercadoria. O executivo está a pedir um resgate ao Fundo Monetário Internacional e novos empréstimos à Índia e China.

O motivo da crise é a má gestão de vários governos, piorada pela pandemia da covid-19, que afectou não só o turismo como as remessas dos emigrantes, diz a Reuters.

A crise levou a uma queda do apoio ao Presidente Rajapaksa, que foi eleito em 2019 prometendo estabilidade.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários