Rivais no Iémen acordam a primeira trégua em seis anos de guerra

ONU quer que a trégua seja o ponto de partida para um cessar-fogo e um processo político, num conflito visto como uma guerra por procuração entre os rivais regionais Arábia Saudita e Irão.

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A capital do Iémen, Sanaa, poderá ter em breve voos a sair e chegar ao seu aeroporto KHALED ABDULLAH/Reuters

Os dois lados em confronto no Iémen acordaram, pela primeira vez em seis anos de luta, uma trégua em todo o país, anunciou o enviado especial da ONU, Hans Grundberg. O acordo “tem como objectivo dar aos iemenitas uma pausa necessária na violência, um alívio do sofrimento humanitário”, disse, mas ainda, “uma esperança de a guerra ter fim”.

A trégua começa este sábado, e Grundberg disse que iria, durante os dois meses que é previsto durar, pressionar para um cessar-fogo permanente e um recomeço do processo político. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a trégua “tem de ser um primeiro passo para pôr fim à guerra devastadora no Iémen”, e que os partidos devem usar a oportunidade para “recomeçar um processo político inclusivo e abrangente”.

A guerra deixou o país devastado, com a economia e serviços básicos destruídos, incluindo os de saúde. Cerca de 80% da população está agora dependente de ajuda humanitária.

O acordo prevê o fim de todas as operações militares, incluindo ataques fora da fronteira do Iémen (os rebeldes houthis, apoiados pelo Irão, têm atacado alvos na Arábia Saudita, que lidera a coligação internacional contra os rebeldes, e os Emirados Árabes Unidos, que fazem parte desta coligação). Por outro lado, prevê ainda que seja permitido o acesso a navios com combustível ao porto de Hudheida​, controlado pelos rebeldes, e ainda voos comerciais no aeroporto da capital, Sanaa, também nas mãos dos houthis, “para destinos na região previamente definidos”.

A guerra civil no Iémen, que começou em 2014 quando os houthis tomaram grande parte do território do Norte e Oeste do país, incluindo a capital (a coligação liderada pela Arábia Saudita entrou no conflito meses depois, em 2015) fez centenas de milhares de mortos em mais de sete anos – não só vítimas dos combates, como também de causas indirectas, como falta de água potável, fome e doenças. A situação do país é considerada pela ONU a maior catástrofe humanitária do planeta.

O conflito é visto como uma guerra por procuração entre os rivais regionais Arábia Saudita e Irão.

Do lado dos houthis, a congratulação pelo acordo veio acompanhada do aviso de que “a credibilidade vai estar na sua concretização”, como disse um responsável houthi, Mohammed Ali al-Houthi, citado pela Reuters.

A coligação liderada pela Arábia Saudita saudou também o acordo e disse que apoiava os esforços para que este se mantivesse.

Vários responsáveis e analistas congratularam-se com a boa notícia, mas alertaram para o facto de ser, no melhor dos casos, o primeiro passo num processo longo e complexo para resolver as inúmeras questões que deixaram o país destruído e ameaçaram a segurança dos seus vizinhos.

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