Lituânia anuncia fim das compras de gás à Gazprom e independência energética da Rússia

O ministro da Energia da Lituânia diz que deixou de comprar gás russo este mês, e que o seu país é o primeiro a ganhar independência da Gazprom, apostando nas compras de gás natural liquefeito.

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Rússia está a exigir o pagamento do gás em rublos Reuters/MAXIM SHEMETOV

Este sábado, o volume de importações directas de gás russo por parte da Lituânia foi igual a zero, e assim deverá manter-se no futuro, segundo anunciou o governo deste país báltico. De acordo com um comunicado do Ministério da Energia da Lituânia as compras de gás russo “foram completamente abandonadas”, em resposta “à chantagem da Rússia” com as vendas de produtos energéticos aos países europeus, no contexto da invasão na Ucrânia, e com o objectivo de atingir “total independência” do gás russo.

Todas as necessidades, diz o comunicado, estão a ter resposta através do terminal de gás natural liquefeito (GNL) de Klaipeda. Na base da sua construção, iniciada em 2010, estava já a diversificação do abastecimento russo.

Para o ministro da Energia, Dainius Kreivys, citado no comunicado, este é “um ponto de viragem” na história de independência energética do país. “Somos o primeiro país da União Europeia abastecido pela Gazprom a ganhar independência” da Rússia, vincou, acrescentando este é o resultado de uma “política energética coerente e plurianual”.

“A exigência, por parte da Rússia, de receber os seus pagamentos em rublos deixa de ter qualquer sentido, porque a Lituânia já não compra gás russo”, destaca-se no comunicado.

O Governo lituano diz que haverá um fluxo de três grandes navios com GNL por cada mês, o que será suficiente para a procura. Nada é dito sobre a origem dos navios, ou o efeito nos preços. Em paralelo, refere que, “se for necessário”, poderá entrar gás através da ligação que existe com a Letónia, e, a partir do dia 1 de Maio, por via da Polónia. Ambos os países efectuam volumosas compras de gás à Rússia, não ficando claro se a Lituânia tem uma forma de distinguir e evitar importações indirectas da russa Gazprom.

Na quinta-feira, o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, já tinha defendido, citado pela Reuters, que a Europa devia parar de comprar gás e petróleo à Rússia (o dinheiro envolvido ajuda Putin a suportar os custos da invasão) e aplicar novas sanções.

A Polónia também tem defendido o corte das relações comerciais energéticas com a Rússia, mas ainda não deu esse passo. Na quarta-feira, segundo noticiou a Bloomberg, o primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki , afirmou que a Polónia iria “fazer tudo” para deixar de comprar produtos energéticos à Rússia (o que inclui também carvão, bastante usado neste país, além do gás e do petróleo). Este responsável exortou os outros países europeus a seguir os mesmos passos, defendendo a criação de uma taxa que penalizasse quem não cumprisse este desígnio.

No dia 8 de Março, a Comissão Europeu afirmou ser possível reduzir em dois terços a sua procura de gás natural importado da Rússia até ao final do ano. Por seu lado, os EUA estão a promover uma maior extracção e fornecimento de gás à Europa. Antes, a Alemanha tinha suspendido a certificação do gasoduto Nord Stream 2, que pretende reforçar as ligações energéticas entre a Rússia e Alemanha.

Segundo os dados do Eurostat, o gabinete de estatística europeu, a Rússia foi o principal fornecedor de petróleo da União Europeia em 2019, com 26,9% do total das importações de crude, valor que sobe para 41,1% no caso do gás e para 46,7% no carvão. No caso de Portugal, o abastecimento de gás russo corresponde a cerca de 10% do total que entrou no mercado no ano passado (a primeira importação da Rússia foi em 2019). O abastecimento mais recente ocorreu no passado dia 5 de Março.

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