Lisboa é o cenário da colecção de Virgil Abloh para a Louis Vuitton

Dois modelos percorrem alguns sítios icónicos da capital portuguesa com as peças desenhadas pelo director criativo de moda masculina da casa de luxo francesa que morreu em Novembro de 2021.

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A colecção intitula-se "Daybreak" DR

A Louis Vuitton acaba de lançar a nova colecção de Primavera/Verão e a campanha de promoção foi filmada, nada mais, nada menos, do que em Lisboa. O nascer do sol no Cais das Colunas é um dos postais da capital a dar vida às criações de Virgil Abloh, o director criativo de moda masculina da casa de luxo francesa que morreu no final do ano passado.

Dois modelos percorrem alguns sítios icónicos de Lisboa, como as arcadas do Terreiro do Paço, a calçada de Alfama e até trepam a estátuas, sem esquecer miradouros. A icónica luz da cidade contrasta com as peças desenhadas por Virgil Abloh para os dias quentes. Intitulada “Daybreak”, a colecção, descreve a Louis Vuitton (LV), “levanta a questão sobre como as pessoas compram e usam as roupas”. Não se sabem mais detalhes sobre a campanha — nem se foi o director criativo a idealizar a capital portuguesa como o local para a fotografar.

Na proposta, já disponível nas lojas e no site ​da marca, com as fotografias de Lisboa, está clara a assinatura do criador, na simbiose entre a alfaiataria e o streetwear. Destacam-se as peças coloridas, sobretudo em tons néones, e os acolchoados, que têm provado não ser apenas uma tendência dos dias frios. Todas as peças, como defendia, Abloh podem ser usadas tanto por homens como por mulheres. “Não acredito em género, acredito em design”, dizia.

Invocando o calor, não faltam acessórios, que ganharam uma nova vida na LV com a chegada de Abloh, em 2018, entre os icónicos sacos da marca, colares, brincos e óculos de sol. O monograma da marca também era uma constante nas criações do criador norte-americano, que dizia sempre que criava para o seu “eu” de 17 anos, que vivia fascinado com as grandes casas de luxo e os seus logótipos.

Ainda assim, tentou sempre afastar-se da abordagem redutora e, muitas vezes, tentadora para marcas como a LV, de dar novas formas ao que já tinha sido feito. Virgil Abloh reinventou, sim, as silhuetas clássicas da moda masculina, dando-lhes um toque do streetwear — tornaram-se mais fluidas, esbatendo a linha entre géneros. “O streetwear não estava no radar de ninguém. Foi com isso em mente que desenvolvi as minhas ideias”, confessava numa entrevista à revista GQ, em 2019.

Nesse mesmo ano, foi diagnosticado com angiossarcoma cardíaco, um tumor maligno raro situado ao nível do coração. Escolheu viver a doença de forma privada e manteve sempre uma vida profissional activa. Morreu a 28 de Novembro de 2021, deixando o mundo da moda em choque com a sua partida prematura. Em Janeiro deste ano, na Semana da Moda Masculina, em Paris, a LV ainda apresentou a última colecção de Abloh para o próximo Outono/Inverno, “Louis Dreamhouse”, inspirada na juventude, e na forma “de ver o mundo pelos olhos intocados de uma criança”.

Para a moda, deixa uma lição: a “regra dos 3%”. O conceito foi abordado pela primeira vez numa palestra em Harvard, em 2017, onde explorou a ideia de que se pode pegar num design antigo e mudá-lo ligeiramente, classificando-o como algo de novo. “Desde que se mude 3%, será um novo design”, dizia. Como legado, mais do que as criações, queria deixar a possibilidade de os jovens negros acreditarem ser possível ter sucesso no sistema da moda, que, até ele chegar, estava “cristalizado”.

Antes de morrer, Virgil Abloh era o negro mais poderoso na indústria de artigos de luxo, além de ser director criativo da LV, tinha outras funções no conglomerado LVMH, que, em 2021, comprou 60% da marca do criador, a Off-White.

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