Inflação em Espanha perto dos 10%, um máximo desde 1985

Em Março, a taxa de inflação em Espanha fixou-se em 9,8%, o valor mais elevado em quase 37 anos.

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EPA/FILIP SINGER / POOL

Ao fim de um mês da guerra que está a fazer disparar os preços de várias matérias-primas, os primeiros impactos oficiais começam a ser revelados. Em Março, a taxa de inflação em Espanha, em relação ao mesmo mês do ano passado, aproximou-se dos 10%, o valor mais elevado em quase 37 anos e, nas palavras do presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, “um mau indicador”.

Os dados foram revelados nesta quarta-feira pelo instituto nacional de estatística espanhol, que indica que o índice de preços no consumidor aumentou 3% em Março deste ano, face ao mês anterior. Já em relação a Março do ano passado, a taxa de inflação fixou-se em 9,8%, a subida mais acentuada desde Maio de 1985. É, também, o 15.º mês consecutivo em que se regista um aumento dos preços em Espanha.

A explicar esta subida estão os efeitos da guerra na Ucrânia sobre os preços de vários produtos. Isso mesmo mostram os dados divulgados nesta quarta-feira de manhã, que apontam para subidas generalizadas dos preços na maioria das componentes analisadas, com destaque para os preços da electricidade, dos produtos energéticos e dos alimentos e bebidas não alcoólicas, numa altura em que a cotação do petróleo e dos cereais nos mercados internacionais tem vindo a escalar.

Esta manhã, depois de um alívio na última sessão, o petróleo está novamente a valorizar e o barril de Brent, que serve de referência para o mercado europeu, voltou a ser negociado acima dos 110 dólares, mantendo-se, ainda assim, muito abaixo dos 139 dólares que chegou a atingir no início deste mês. Já o trigo e o milho estão ambos a negociar em baixa, mas, em ambos os casos, os preços destas matérias-primas mantêm-se próximos de máximos históricos.

Na reacção aos dados agora divulgados, o presidente do Governo espanhol admite que o cenário é negativo, mas assegura que as medidas anunciadas na terça-feira serão suficientes para mitigar o impacto da escalada dos preços. “É um mau indicador, que é explicado em 73% pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos não preparados, tudo isto exacerbado pela guerra na Ucrânia”, disse Pedro Sánchez, citado pela imprensa espanhola.

Ainda assim, diz, as medidas aprovadas recentemente pelo Conselho de Ministros espanhol permitirão “conter a curva [da inflação] e estabilizar o custo de vida”. Em causa está um pacote de apoios no valor global de 6000 milhões de euros para mitigar o impacto da subida da inflação, que inclui a imposição de um limite de 2% ao aumento das rendas até Junho e a recuperação do apoio extraordinário à manutenção do emprego, bem como um desconto de 20 cêntimos por litro nos preços dos combustíveis.

Mesmo com estas medidas, os receios em torno de uma espiral de inflação têm vindo a agravar-se em Espanha. Ainda nesta terça-feira, o governador do Banco de Espanha, Pablo Hernández de Cos, avisou que o indicador da inflação agora divulgado seria “particularmente negativo” e apelou a que empregadores e trabalhadores chegassem a acordos para manter os salários estáveis e, assim, evitar uma subida ainda mais acentuada dos preços motivada pelo aumento dos custos das empresas com uma actualização dos salários.

Ao mesmo tempo, há vários meses que a inflação em Espanha é superior à média europeia. Os dados mais recentes do Eurostat, relativos a Fevereiro, indicam que, nesse mês, a taxa de inflação em Espanha foi de 7,5%, quase dois pontos percentuais acima da taxa de 5,8% registada no conjunto da zona euro.

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