As mulheres do PS e o desporto

Caso a ministra siga o velho guião, fará da juventude a sua principal vítima. A bola do futuro do desporto e dos seus benefícios vitais para a população portuguesa está nas mãos de Ana Catarina Mendes

As mulheres do PS e o desporto

O desporto não sabe, mas o seu devir terá dependido de mulheres do PS e irá continuar a sê-lo.

No governo Pedro Passos Coelho e com Miguel Relvas o desporto esteve no Ministério dos Assuntos Parlamentares, sendo Alexandre Mestre o secretário de Estado. Com a saída de Miguel Relvas, o desporto passa para a pasta da Presidência de Luís Marques Guedes e o secretário de Estado Emídio Guerreiro.

No primeiro governo António Costa, Maria Manuel Leitão Marques, é a ministra da presidência e da modernização administrativa que terá “aceite/contribuído” (?) para a saída do desporto do ministério da Presidência para o da Educação. Tiago Brandão Rodrigues recebe o desporto e é nomeado secretário de Estado, João Wengorovius Meneses. Este não terá agradado à equipa. Correu na altura que a então secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, contribuído para a nomeação de João Paulo Rebelo que se mantém à data deste escrito. Quaisquer que fossem os motivos, a substituição seria sempre possível se o inenarrável não sucedesse ad aeternum.

O actual governo António Costa corrige a mão e o desporto volta à pasta anterior, neste caso da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares Ana Catarina Mendes.

O desporto não se terá apercebido e terá estado dependente das decisões de várias mulheres do PS e, agora, tem uma mulher como ministra, e a secretaria de Estado da Juventude e do Desporto estará com João Paulo Correia um ex-deputado.

Esta nomeação demonstra que o PS não tem, nem procura ter pessoas relacionadas e fortemente conhecedoras dos desafios do desporto. Depois dos erros das últimas legislaturas, a próxima, alicerçada no frágil saber de políticas públicas do desporto do Parlamento, surge fortemente incapaz de projectar as responsabilidades da ministra para patamares desportivos condicentes com os desafios do século XXI da juventude portuguesa.

Veja-se que com José Sócrates, Laurentino Dias criou o Congresso do Desporto no XVII governo. Este projecto inspirado no Livro Branco do Desporto da Comissão Europeia acabou por não trazer contributos significativos para a juventude e o desporto por carência de capacidade de política pública desportiva do PS. O PSD de Pedro Passos Coelho sob a batuta da austeridade do norte extremo europeu iniciou em 2011 o inverno programático e orçamental na juventude e no desporto que se prolonga até hoje e, agora, se perspectiva até final da presente legislatura.

O ponto relevante é que no regime democrático o desporto tem andado em bolandas mudando de poiso e de nome por cada legislatura, com incapacidades e racionais de política pública desportiva que explicam os seus desaires.

Para começar, poderá Ana Catarina Mendes prover os direitos humanos e constitucionais da juventude e da população portuguesa no domínio do desporto?

Considerando o género, todos os governantes masculinos do desporto mantiveram inalterado os resultados desportivos nacionais nos últimos lugares europeus. A perda de afirmação política a nível nacional teve como facto recente a sua exclusão do PRR.

O ideal que parece estar subjacente à formação do actual governo foi a máxima de “menos Estado, melhor Estado” tão do agrado de sectores políticos e empresariais.

O desporto tem sido reduzido à ínfima política pública sendo o decrescimento da sua administração pública central exercida de variadas formas, que aqui não se tratará.

A juventude é o ouro dos portugueses e tem sido preterido por ideologia, pelas decisões que visam a finalidade lucrativa e de extração de benefícios de curto prazo tanto na gestão das organizações desportivas, como nas relações com a juventude.

O hábito de colocar outros objectivos sectoriais nacionais à frente do desporto da juventude e da população são erros graves do Estado e das suas políticas públicas à luz da realidade desportiva europeia onde Portugal diz que quer estar. O desporto foi preterido nos primeiros fundos da CEE e depois dos da União Europeia e agora no PRR para além de outras ocasiões de investimentos públicos estruturais.

Teria sido melhor o Desporto ter ficado na Educação agora com João Costa?

Tirar o desporto da formação dos jovens no momento em que mais precisam da pluralidade da sua actividade física e mental, através do desporto, mostra a iliteracia que se mantém na política pública desportiva do PS.

Os exemplos da política pública desportiva do PS são claros. Os ovos estão todos postos no comportamento público exíguo e quantas vezes nulo em relação à principal modalidade, o que a prejudica e todos os parceiros. Conhece-se o péssimo exemplo das claques e o dar por dez réis de mel coado os clubes históricos das comunidades locais, regionais e nacionais a qualquer indivíduo que, esgotado o filão, deixa dívidas do tráfico de jogadores (como em determinada altura foi sugerido na comunicação social). É hoje possível questionar se a representação olímpica nacional não é um desperdício imenso de recursos humanos e políticos que não interessa às federações e desconstrói vidas dos melhores praticantes incapazes de ir mais longe devido à insuficiência da política pública desportiva.

Nenhum governo europeu tem esta complacência política para a asneira pública no desporto.

A ministra Ana Catarina Mendes deve fazer no desporto o que a Europa incentivou os seus países a fazer no Plano de Recuperação e Resiliência: primeiro reformar o sector e, depois, financiá-lo. Este objectivo de protagonizar a reforma do Modelo Português de Desporto tem todo o sentido negocial nas mãos da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares.

Os opinadores “especiais” subentendem que os ministros são melões. Porém, há emergências nacionais como as do desporto a exigir a reforma do Modelo Português de Desporto em benefício de toda a juventude e de toda a população nacional. Fazê-lo será um activo vital dos direitos humanos e constitucionais que o PS garantirá à população nesta legislatura.

A ministra tem contra si o velho hábito do PS profundo (e dos seus homens?) de instrumentalizar partidariamente as legislaturas do desporto, empurrando-a até ao fim da mesma, de forma a assegurar o interesse de curto prazo do partido que é distinto do benefício de longo prazo que a juventude e a população necessitam urgentemente. Com Tiago Brandão Rodrigues e João Paulo Rebelo o curto prazo foi o critério fundamental de decisão da política pública desportiva. Estes dois políticos do PS por não terem feito a reforma do Modelo Português de Desporto nas legislaturas que governaram impediram o sector de beneficiar do PRR e outros fundos e feriram gerações de jovens pelo stress e carência desportiva induzida politicamente. A asneira pegada impede agora o PS com Ana Catarina Mendes de equacionar outras metas ambicionadas peãs federações e associações desportivas como estas alertam desde, pelo menos, 2016. As consequências revelar-se-ão no futuro nas faltas de produtividade, da saúde e de anos de vida de toda a população que uma prática desportiva regular e adequada obstaria.

Em consequência, caso a ministra siga o velho guião, fará da juventude a sua principal vítima. A bola do futuro do desporto e dos seus benefícios vitais para a população portuguesa estão nas mãos de Ana Catarina Mendes!

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