Os “inadotáveis”, os meninos que mais ninguém quer

Espero um final feliz, quer para esta, quer para muitas outras crianças que aguardam por famílias que as recebam. Mesmo que seja no outro lado do mundo.

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Paulo Pimenta

Existem crianças “inadotáveis”. São miúdos portadores de deficiência, ou com perturbações graves, físicas ou mentais, em regra mais velhos, que não encontram candidatos à adoção em Portugal. Após algum tempo no sistema, e constatada a impossibilidade de serem adotados por cá, é tomada a decisão de abrir a porta à adoção internacional, permitindo a estes meninos serem adotados por famílias de outros países.

A lei portuguesa prevê que neste processo intervenham agências internacionais. São instituições particulares de solidariedade social (IPSS), com sede e acreditação em países estrangeiros, que, uma vez autorizadas pelo Estado português a exercer a sua actividade em Portugal, seleccionam e filtram as famílias interessadas nos seus países de origem. Uma vez seleccionada a família e uma criança ou crianças (no caso de irmãos), a agência acompanha e assessora o processo em Portugal e, finalmente, no país de destino.

A burocracia envolvida no processo de autorização destas agências é substancial. E o processo administrativo é longo e árduo. E nem de outro modo poderia ser. É a vida e bem-estar das crianças que estão à guarda do Estado — e, portanto, de todos nós — que está em causa e são necessárias garantias relativamente à idoneidade, capacidade e isenção destas instituições que se propõem trabalhar numa área tão sensível.

No início deste mês de Março, saiu em Diário da República a autorização para uma agência norte-americana que represento em Portugal. E, alguns dias após a publicação, já me diziam que uma família norte-americana, há muito registada na base de dados desta IPSS, havia manifestado interesse em adotar um destes meninos portugueses. Um dos tais que mais ninguém quer.

Ainda há um longo caminho a percorrer até que esta família possa acolher em sua casa este menino, é certo. Mas espero um final feliz, quer para esta, quer para muitas outras crianças que aguardam por famílias que as recebam. Mesmo que seja no outro lado do mundo. Uma nova vida para estas crianças que já viveram mais nos seus poucos anos do que a maior parte de nós experimentará numa vida inteira.

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