Russian Missile Command: o “jogo” no qual 60% dos mísseis não funcionam

Responsáveis do Governo norte-americano acreditam que a taxa de erro dos bombardeamentos da Rússia na Ucrânia ronda os 60%, justificando o rasto de destruição sentido no país e o número crescente de mortes de civis.

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Polícias ucranianos analisam um míssil russo que caiu numa rua de Kiev VALENTYN OGIRENKO/Reuters

Uma das limitações que a Rússia enfrenta no seu esforço para dominar a Ucrânia é o facto de estar a esgotar as suas munições de precisão. É fácil bombardear algo como uma instalação de treino militar, mas sem mísseis de precisão torna-se muito mais difícil atingir aquilo que se pretende. O resultado final é que falham muitos dos alvos que querem atacar e muitos alvos não intencionais são atingidos.

Mas há também outro problema, que a Reuters foi capaz de identificar esta semana: muitos mísseis da Rússia simplesmente não funcionam.

“Três responsáveis do Governo norte-americano estimam que a taxa de erro [dos bombardeamentos] da Rússia varia diariamente, dependendo do tipo de míssil que está a ser lançado e, por vezes, pode exceder os 50%”, relatou o correspondente militar daquela agência, Phil Stewart. “Dois deles disseram que chega, inclusivamente, aos 60%”. Os erros incluem tudo, desde falhas no lançamento até falhas na detonação.

Não sou um especialista militar, mas sinto-me confiante para afirmar isto: 60% é muito. Se estivermos a jogar bowling e se errarmos, consistentemente, 60% dos pinos, vamos terminar o jogo com uma pontuação de 40 pontos.

Mas vamos demonstrar isto de outra forma. Quem já tem uma certa idade, deve lembrar-se de um jogo chamado Missile Command. Era um típico videojogo do género “anos 1980 e Guerra Fria”, e envolvia mísseis nucleares (pequenos pontos) a chover sobre uma cidade (pequenos quarteirões) e o objectivo era disparar os mísseis antimíssil (outros pequenos pontos) na esperança de que se conseguissem detonar as armas nucleares (com pequenos círculos) antes de atingirem o solo.

Se se imaginarem a jogar este jogo e a vossa cidade sobreviver intacta enquanto utilizam mísseis russos com uma taxa de erro de 60%, parabéns. Mas, provavelmente, isso não vai acontecer.

Claro que, do ponto de vista da Ucrânia, isto não é um ponto negativo. Quanto menos mísseis funcionarem, menos destruição existirá. Quanto menos destruição, mais cedo a guerra terminará. O conflito na Ucrânia não é um jogo, e as repercussões são reais.

Mas aqueles que torcem por menos mortes e por uma destruição menos arbitrária de cidades, podem apreciar a forma como a taxa de fracasso dos mísseis da Rússia torna possível o seu sucesso.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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