Guerra tira 0,9 pontos ao crescimento e faz duplicar a inflação, prevê Banco de Portugal

Banco de Portugal revê em baixa as suas previsões de crescimento e passa a estimar uma inflação de 4% durante este ano. Num cenário mais adverso de escalada do conflito militar, as perdas para a economia portuguesa podem ser substancialmente maiores, admite.

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Rui Gaudencio

O conflito militar na Ucrânia e as suas consequências para a conjuntura económica internacional forçaram o Banco de Portugal a rever esta quinta-feira em baixa a sua previsão de crescimento da economia portuguesa durante este ano, num cenário em que a taxa de inflação sentida pelos portugueses durante os próximos anos será bastante mais alta do que o inicialmente previsto.

Nas primeiras projecções para a economia portuguesa que apresenta desde que a Rússia iniciou a invasão militar da Ucrânia, o Banco de Portugal, liderado por Mário Centeno, passou a prever que a taxa de crescimento do PIB português será este ano igual à do ano passado: 4,9%. É um valor que fica abaixo do crescimento de 5,8% que o banco central projectava em Dezembro, num cenário de aceleração da retoma iniciado no ano passado.

Para 2023, o Banco de Portugal também reviu ligeiramente em baixa a sua previsão de crescimento económico, que passou de 3,1% para 2,9%.

É no consumo privado que se nota uma deterioração mais significativa das expectativas do Banco de Portugal. Em Dezembro, apontava-se para um crescimento deste indicador de 4,8%, mas agora a expectativa é apenas de uma variação de 3,6%.

Isto acontece numa altura em que a escalada de preços não só persiste, como se intensifica. Em Dezembro, o Banco de Portugal esperava que a taxa de inflação média em Portugal, que foi de 0,9% em 2021, se situasse em 1,8% em 2022, com um recuo deste indicador a ocorrer na segunda metade do ano.

Mas agora a nova previsão aponta para uma subida da inflação mais permanente que vai pôr o seu valor médio em 2022 nos 4%. Em 2023 e 2024, a taxa de inflação prevista é de 1,6%, em vez de 1,1% e 1,3%, como era projectado em Dezembro.

Por trás destas expectativas mais negativas está, como é evidente, o impacto da guerra na Ucrânia. “A invasão da Ucrânia pela Rússia em finais de Fevereiro contribui para intensificar as pressões inflacionistas e para limitar o dinamismo económico na área do euro e em Portugal”, afirma o relatório do Banco de Portugal.

A equipa liderada por Mário Centeno alerta ainda assim que as novas projecções agora apresentadas assentam no pressuposto de “que não se verifica uma escalada do conflito e o impacto destes factores se dissipa no médio prazo”. E que, por isso, “as projecções apresentam uma incerteza acrescida e o balanço de riscos é enviesado em alta para a inflação e em baixa para a actividade, especialmente em 2022”.

Para ilustrar estes riscos, o Banco de Portugal apresenta no relatório publicado esta quinta-feira as suas projecções para a economia portuguesa num cenário mais adverso, em que se assume “a imposição de sanções adicionais sobre a Rússia e o prolongamento das tensões geopolíticas, causando novas subidas dos preços das matérias-primas, disrupções nas cadeias de valor global, uma amplificação das fricções financeiras e maior incerteza”.

Neste cenário, em vez de um crescimento de 4,9%, o que Portugal poderia ter era uma variação do PIB este ano de apenas 3,6%, um abrandamento significativo face ao ano passado. Em 2023, o crescimento seria de 2,7% e em 2024 de 2,2%.

No que diz respeito à inflação, o Banco de Portugal aponta, no cenário mais adverso, para uma subida até aos 5,9% este ano, em vez dos 4% do cenário base.

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