Marcelo sobre Cabo Delgado: está a ser programado hospital de campanha para apoio a tropas moçambicanas

Presidente português em visita oficial a Moçambique com agenda recheada de eventos de índole militar. Na inauguração de uma escola aplaudiu a parceria com a comunidade muçulmana ismaelita através da Rede Aga Khan.

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LUSA/JOSÉ COELHO

O Presidente português afirmou neste sábado, num centro de treino da União Europeia em Moçambique, que está em programação um hospital de campanha para apoio às tropas moçambicanas em Cabo Delgado e que chegará em breve equipamento militar. No fim de uma visita a uma unidade da missão de formação militar da União Europeia (UETM) no distrito da Katembe, na parte sul da baía de Maputo, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que se deve dar continuidade a este projecto, que está a ter “resultados tão qualificados, tão excepcionais”.

O Presidente afirmou que “nas próximas semanas” deverá chegar uma “primeira fatia de equipamento” que já foi aprovada a nível europeu e que outro se seguirá. “E está já em programação um hospital de campanha”, adiantou Marcelo Rebelo de Sousa, que realçou como “tudo isso é fundamental para ser possível intervir no terreno, nomeadamente em Cabo Delgado, com a eficácia que as Forças Armadas moçambicanas têm mostrado”.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que “Portugal está intimamente ligado” a esta missão de formação militar impulsionada pela presidência portuguesa da União Europeia, no primeiro semestre de 2021, “por causa da situação em Cabo Delgado”, e criada logo em Julho desse ano.

Como Presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas Portuguesas, manifestou-se “muito, muito honrado pela intervenção da UE e, em particular, a intervenção portuguesa, muito qualificada e muito eficaz”.

A província de Cabo Delgado, rica em gás natural, tem sido aterrorizada desde 2017 por actos de violência por grupos armados, tendo alguns ataques sido reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Marcelo Rebelo de Sousa assegurou que Cabo Delgado “vai continuar a ser uma prioridade”, para Portugal e manifestou-se convicto de que o mesmo acontecerá com a União Europeia e de que a comunidade internacional “não vai esquecer” o assunto.

Segundo o chefe de Estado, “uma coisa foi a fase do terrorismo, que foi subindo, subindo, subindo, subindo, sem a preparação da capacidade de resposta perante aquilo que ultrapassou em intensidade o que muitos tinham pensado”, mas agora está-se “numa nova fase”, em que “a capacidade de resposta começou a manifestar-se e que deve ter como grandes protagonistas as Forças Armadas moçambicanas”. “Estamos em Moçambique, há soberania moçambicana, e aqui a ideia é preparar as forças armadas moçambicanas para ter um papel central no futuro”, frisou.

O Presidente da República assistiu a uma demonstração táctica no centro da EUTM na Katembe, onde se treinam os fuzileiros moçambicanos, “a cargo da Armada e do Exército”, mencionou. “Saio daqui muito grato e muito feliz porque os objectivos estão a ser cumpridos”, disse.

Antes, também na Katembe, o chefe de Estado visitou a Escola de Fuzileiros Navais, onde há um projecto de cooperação bilateral “já antiga, que vem do início dos anos 90 (1994)”, para a formação de praças fuzileiros moçambicanos, e que, no seu entender, “correu muitíssimo bem, curso sobre curso”.

Moçambique renova acordo com Rede Aga Khan

Já à tarde, Marcelo e o homólogo moçambicano inauguraram a academia Aga Khan de Maputo, e aplaudiram a parceria que ambos os países mantêm com a comunidade muçulmana ismaelita. Filipe Nyusi, sugeriu até que a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN, sigla inglesa) invista, de seguida, num hospital, por forma a colmatar as lacunas em saúde no país.

“Nem que seja só um terço desta escola”, referiu o chefe de Estado na cerimónia de inauguração que contou com a presença do príncipe Rahim Aga Khan, filho do líder espiritual da comunidade e líder da AKDN. A rede Aga Khan desenvolve já em Moçambique projectos em outras áreas como a agricultura, turismo ou indústria têxtil e o acordo vigente entre a comunidade e o Estado moçambicano vai ser renovado em breve.

Ao intervir, o Presidente português elogiou “a visão de sua alteza Aga Khan”, líder espiritual dos ismaelitas, e a “mensagem de humanismo e de fraternidade”. Dirigindo-se aos alunos da academia moçambicana, Marcelo Rebelo de Sousa disse-lhes que são privilegiados, porque “há milhões de crianças e de jovens por todo o mundo que não podem frequentar uma academia como esta”. E apelou: “Têm de ser os melhores a responder a esta oportunidade que os outros não têm. E, depois, os melhores a construírem Moçambique, um Moçambique aberto a todas as religiões, aos que não têm religião, a todas as opiniões, a todos os sonhos, a todos os projectos de futuro. É esse o vosso dever.”

No domingo, Marcelo Rebelo de Sousa irá a outro centro de treino da missão da União Europeia, no Chimoio, província de Manica, onde verá “o treino dos comandos a cargo do Exército”. O Presidente português chegou na quinta-feira a Moçambique para uma visita oficial de quatro dias, a terceira que realiza a este país desde que assumiu a chefia do Estado.

Notícia actualizada às 18h40 com informação sobre a inauguração da escola da Rede Aga Khan

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