Recordar Petrópolis

Quando ouviu as notícias sobre o mau tempo em Petrópolis, que fez mais de 100 vítimas, o leitor António Valadas decidiu homenagear a cidade brasileira por onde passou já no longínquo ano de 1986.

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Petrópolis, Palácio de Cristal António Valadas

Petrópolis tem um interesse especial para um português. É muito da nossa história que vamos ali encontrar e, sobretudo, compreender melhor. Não fica muito longe do Rio de Janeiro e vale a pena lá ir só pelo passeio.

Agora as montanhas e a vegetação substituem as praias. O trajecto é sempre a subir. Há uma nítida diferença entre as temperaturas de Petrópolis e do Rio. A cidade é muito maior do que eu esperava, talvez por ter pensado em Sintra como termo de comparação.

A parte nova, sobretudo no centro da cidade, não tem qualquer interesse. Já a periferia e certos recantos me fizeram recordar Sintra. A minha amiga brasileira que me acompanhava disse que quando a levei a visitar Sintra se recordou de Petrópolis.

Os descendentes da família real, d’Orleans e Bragança, têm um acordo com o governo brasileiro que lhes reconhece certos direitos em relação à cidade. Assim, toda a construção, comércio e indústria paga uma taxa à família real. Consta que é prática corrente um príncipe ir a casa de um dos habitantes discutir o preço que teriam pago na compra da sua casa.

Além do museu onde se pode reviver toda a independência e os primeiros tempos do novo país, vi várias casas e palacetes com interesse, onde viveram personagens históricas.

Petrópolis tem sido também estância de veraneio, pelo que muita gente que mora no Rio tem aqui casa. Vi, entre outras, a casa de Juscelino Kubitschek, mas também a de Santos Dumont, para os brasileiros o pai da aviação. Vi ainda várias casas interessantes que serviram de cenário a telenovelas já passadas em Portugal. Já agora, vale a pena acrescentar que todo o passeio à parte histórica da cidade foi feito numa carruagem puxada por duas pilecas e conduzida por um simpático velhote que nos explicou muita coisa.

No meio de um jardim com jogos de água fica situado o Palácio de Cristal, uma graciosa estrutura de ferro e vidro num estilo que já fez época. Parece que o pavilhão tinha os vidros todos em cristal autêntico, só que um Prefeito decidiu organizar lá dentro uma festa de Carnaval. A festa deve ter sido bem animada, porque não ficou um vidro intacto. Hoje em dia o cristal foi substituído por vidro vulgar. O Prefeito continua.

António Valadas
Autor do livro Facing Challenges- Histórias da minha vida que me pediram para contar

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