Médicos de saúde pública pedem estratégia para “covid longa”

Alguns dos principais hospitais já têm uma consulta para esta condição clínica, mas ainda não existe uma estratégia que preveja “de que maneira os cuidados de saúde primários podem ajudar”.

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Dificuldades respiratórias, capacidade funcional física diminuída e perda de capacidade de raciocínio são alguns dos sintomas da "covid longa" Manuel Roberto

A Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) defendeu esta quinta-feira a criação de uma estratégia nacional específica para a “covid longa”, à semelhança dos programas de saúde já existentes em Portugal para várias doenças.

“Temos muitos programas nacionais prioritários e outros não prioritários e era importante que houvesse uma estratégia covid prolongada que integrasse os diferentes níveis de cuidados, as diferentes especialidades e as diferentes patologias” associadas a esta condição clínica, disse à Lusa o presidente da ANMSP.

Segundo Gustavo Tato Borges, uma vez que os cuidados de saúde primários são a “porta de entrada do utente” no Serviço Nacional de Saúde, cabe aos “médicos da base da pirâmide fazerem a identificação dos casos que precisam de ser enviados para referenciação hospitalar”.

Para que essa referenciação seja eficaz, estes médicos “serão fundamentais” e devem estar “dentro deste esquema e bem orientados”, adiantou o presidente da associação, ao avançar que deveria ser criada uma estratégia nacional de saúde para a “covid longa”, como já existe para várias doenças, caso da diabetes, da hipertensão, da saúde mental, do cancro, da pneumonia, entre outras.

De acordo com Tato Borges, alguns dos principais hospitais nacionais têm já uma consulta multidisciplinar para esta condição clínica, mas “ainda não há uma estratégia nacional” que defina os referenciais para estas situações e que preveja “de que maneira os cuidados de saúde primários podem ajudar”.

“Há uma imensa sintomatologia que é necessário enquadrar e estudar e penso que ainda não estamos com este processo totalmente implementado em Portugal. Será um passo interessante que aconteça”, sublinhou o presidente da ANMSP, ao apontar o exemplo de sintomas como dificuldades respiratórias, capacidade funcional física diminuída, perda de capacidade de raciocínio e alterações de padrão do sono.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% a 20% das pessoas com covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase aguda da infecção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afecta também a saúde mental.

“Embora os dados sejam escassos, estimativas recentes apontam que dez a 20% das pessoas com covid-19 experimentam doença contínua durante semanas ou meses após a fase aguda da infecção”, refere o Relatório Europeu da Saúde 2021 da OMS divulgado dia 10 deste mês.

De acordo com o documento da OMS Europa, o que influencia o desenvolvimento e gravidade da covid prolongada é, até agora, desconhecido, mas não parece estar correlacionado com a gravidade da infecção inicial ou com a duração dos sintomas associados, sendo, porém, mais comum em pessoas que foram hospitalizadas.

“Espera-se que o número absoluto de casos aumente à medida que ocorrem novas ondas de infecção na região europeia e é necessária mais investigação e vigilância” a esta condição específica provocada pela covid-19, adianta ainda o documento.

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